O objetivo desta dissertação de mestrado é apontar e construir elementos teórico-práticos que fundamentem a atuação da(o) psicóloga(o) na escola pública como práxis da libertação, a partir de uma síntese dialógica entre os primeiros escritos de Paulo Freire e as produções em Psicologia Escolar e Educacional. Para tanto, foi necessário, num primeiro momento, revisitar a história do movimento crítico realizado nesse campo de conhecimento psicológico e, num segundo momento, analisar o conteúdo da produção bibliográfica que aborda o trabalho da(o) psicóloga(o) escolar numa perspectiva crítica. Feito isso, tínhamos as condições teóricas e epistemológicas necessárias para que, munidos metodologicamente tanto da teoria e do método materialista histórico-dialético quanto do delineamento teórico-bibliográfico, pudéssemos nos aproximar, de forma objetiva e rigorosa, da totalidade do legado freireano com o objetivo de selecionar os primeiros livros escritos desse conjunto, orientados por critérios pré-estabelecidos pelos autores. O processo de leitura e análise dos livros selecionados foi orientado por três perspectivas articuladas, a saber: I) a crítica teórico-histórica da psicologia escolar/educacional; II) o conteúdo relatado nas produções científicas que tratam da prática da psicologia nas escolas públicas; III) o método dialético. Ao longo da discussão, estruturamos dois artigos dialeticamente articulados, que desvelam as contribuições do pensamento freireano para a prática da psicologia na escola pública e para a perspectiva crítica, bem como enfatizam elementos crítico-políticos como estruturantes de um modo de fazer-saber a educação e a psicologia escolar em solo brasileiro. No primeiro artigo, objetivamos discutir as implicações políticas da prática psicológica em instituições públicas de ensino, mediada dialeticamente por elementos teóricos do pensamento freireano, extraindo dele os seguintes núcleos temáticos: (a) Engajamento crítico; (b) Abertura dialógica; (c) Ética amorosa. Esses elementos teóricos revelam à psicologia novas formas de atuação no cotidiano escolar e mostram que uma ação política de libertação precisa avançar de forma atenta aos limites institucionais e históricos de seu tempo e, superando processos de alienação e reificação, precisa assumir a radicalidade da existência humana como práxis transformadora e autenticamente humanizadora. No segundo artigo, buscamos compreender a conceção crítica de educação de Freire, alcançando, assim, os respectivos núcleos temáticos: (a) Problematização; (b) Ação investigativa; (c) Inserção crítica. Esses elementos evidenciam que uma práxis libertadora no campo da psicologia escolar e educacional pode ser revelada pela proposição de práticas criativas referidas às particularidades locais e aos saberes que os sujeitos escolares já possuem, pois uma ação educativa para a libertação é incompatível com uma psicologia que, consciente ou mistificada, tem sido uma prática de dominação. Em síntese, em nossa pesquisa desenvolvemos a crítica como elemento mediador para o conhecimento da realidade escolar e a política como elemento transformador dessa mesma realidade. Portanto, elas estão dialeticamente correlacionadas: nem a política se justifica sem a crítica, nem a crítica faz sentido se não for movida pela política, sendo que ambas as categorias teóricas precisam ser inscritas como práxis concreta.