A violência sexual contra crianças e adolescentes é uma problemática entendida como violação de direitos humanos, com impactos severos, principalmente por se inter-relacionar com diversas outras violências, arrastando silêncios que podem permear toda a vida desse público. Pensar a formação profissional nesse âmbito diz sobre destacá-la como uma ferramenta dentre as estratégias de enfretamento a essa violência, considerando a necessidade de estar em confluência com a gestão das políticas e garantia da letra da lei, enquanto proteção à vida de crianças e adolescentes. Nesse sentido, o presente estudo buscou investigar como os currículos de graduação em Psicologia do Brasil têm abordado a temática violência sexual contra crianças e adolescentes na formação. O silêncio e silenciamento estão neste trabalho como analisadores dessa difícil realidade enfrentada por muitas crianças e adolescentes no Brasil e no mundo, ou de jovens e adultos que passaram por tais violências em suas infâncias, mesmo tendo que dar seguimento às suas vidas sob essas difíceis marcas e cicatrizes encarnadas em seus corpos e subjetividades. Trata-se de uma pesquisa documental a partir dos Projetos Pedagógicos de Cursos (PPCs) de Psicologia do Brasil que localizou os currículos e procurou observar informações curriculares relacionados à temática de violência sexual contra crianças e adolescentes, bem como foi realizada a descrição dos descritores. Após essa fase, a centralidade do estudo deteve-se para as informações advindas das disciplinas. Para tratamento dos dados, foram submetidos à análise textual lexicográfica com o auxílio do software Interface de R pour Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionneires (IRAMUTEQ). Ressalta-se que a interpretação e análise dos dados partiram do referencial teórico da Análise Institucional (AI), com a intencionalidade de desvelar os silêncios que contribuem para a manutenção dos silenciamentos quanto a essa temática. Em suma, a discussão ressoa de forma muito tímida dentro dos currículos de Psicologia, por mais que alguns aspectos importantes sejam debatidos, o estudo faz ver a contínua reprodução do pacto de silenciamento que a sociedade tem tecido com relação a esse assunto, o que se mistura com as ideias hegemônicas de infância e adolescência num país colonizado, com uma cultura sexista profunda que se reverbera nas mais diversas relações sociais e com o distanciamento da Psicologia quanto às questões sociais. Assim, o trabalho parte da afirmação dessas fragilidades para que possamos avançar na produção de outras formas de inserção e atuação a essa problemática.