Com a chegada da internet e das mídias interativas, o uso de mídias por crianças está cada vez mais habitual, o que tem colaborado para um aumento no tempo de uso destes dispositivos. O contexto de pandemia que levou ao ensino remoto, reacendeu a necessidade de compreender os efeitos adversos dos diferentes tipos de tela e conteúdo de mídia para a saúde e ao SNC. As principais entidades pediátricas do mundo (AAP; SBP; CPS) recomendam uma série de medidas sobre o uso de telas e internet por crianças e adolescentes, em função das consequências do tempo de tela à saúde física e mental e ao desenvolvimento. A despeito destas orientações, é notório que as novas tecnologias têm sido incrementadas nos cenários de aprendizagem de crianças, sendo comum o uso de aplicativos, livros digitais e serviços de streaming de vídeo como recursos educativos. Neste sentido, cabe questionar o que os recursos digitais podem oferecer às crianças e com que efeito. Entre os efeitos na cognição, há pesquisas que mostram que o acesso a diferentes ferramentas tecnológicas pode contribuir para o desenvolvimento, sendo também capaz de promover uma aprendizagem mais direcionada à realidade do indivíduo (Hassinger-Das, Brennan, Dore, Golinkoff. & Hirsh-Pasek, 2020; Lovato &Waxman, 2016). Contudo, há outras que alertam para o impacto do uso excessivo dessas ferramentas e os mecanismos da cognição social que são usados para racionalizar as atitudes do indivíduo e dos seus pares: memória, atenção, codificação das informações, afetos, auto-imagem e processos automáticos controlados. Conceitua-se o REFE como a capacidade de reconhecer e rotular as expressões faciais emocionais, ocasionando na infância, os aspectos fundamentais para as interações sociais e a comunicação interpessoal, sendo amadurecida ao longo do desenvolvimento infantil (Bomfim, 2019). Constata-se que um bom desenvolvimento emocional repercute de forma positiva nas relações das crianças com os adultos e com outras crianças, favorece o desempenho escolar e contribui para um desenvolvimento global saudável (Mota, 2010). O adequado reconhecimento das emoções está relacionado a comportamentos pró-sociais que 66 auxiliam a funcionalidade e aceitação da criança nas relações sociais. No desenvolvimento infantil, o REFE parece ocorrer em ritmos diferentes para cada emoção. Alegria e tristeza são reportadas como as emoções mais precocemente reconhecidas com acertos semelhantes aos de adultos ainda na primeira infância. Já na idade de 11 anos apresenta um aumento significativo de acertos em tarefas de reconhecimento de expressões emocionais. Sendo que a partir dos 12 anos de idade os limiares de reconhecimento das expressões emocionais seguem padrões de desenvolvimento similares aos de adultos, corroborando a singularidade deste período do desenvolvimento no reconhecimento de expressões emocionais. Durante a infância o reconhecimento de expressões faciais pode ser influenciado por diferentes fatores como inteligência, puberdade, nível socioeconômico e transtornos comportamentais. Salienta-se que neste estudo objetiva-se elucidar se o tempo de tela pode ser um fator que prejudica o desenvolvimento desta competência socioemocional. Este trabalho apresenta por objetivo geral investigar se o tempo de exposição elevado a telas estará associado a prejuízos na tarefa de REFE. Para tanto, o presente trabalho elabora processo investigativo se há diferenças no reconhecimento de expressões faciais emocionais entre crianças que fazem uso normal e elevado de tela, realizando comparações com os resultados e os efeitos obtidos no REFE e o tempo de tela entre sexo dos participantes e o período de maior frequência de uso (manhã, tarde, noite). Para a construção de nosso trabalho, o procedimento metodológico partirá de um estudo transversal de cunho quantitativo do tipo descritivo e correlacional, realizado com a participação de crianças em idade escolar que residam nas cidades de São Luís – MA. A amostra da população será por conveniência do tipo não probabilística. Os participantes do estudo serão crianças de 8 a 11 anos da população em geral que tiverem autorização dos pais/responsáveis e aceitar voluntariamente participar do estudo e cumprirem os critérios de inclusão. Estima-se contar com 60 crianças, 30 do sexo feminino e 30 do sexo masculino. As crianças serão agrupadas em dois grupos de acordo com o tempo do uso de tela: G1: Grupo de uso normal (até duas horas), n = 30; G2: Grupo de uso elevado (maior que duas horas), n = 30. Para a escolha dos participantes, apresentam-se alguns critérios de inclusão: fazer uso de telas; crianças com idade entre 8 e 11 anos e 11 meses: com acuidade visual normal ou corrigida; acuidade auditiva normal ou corrigida; autorização dos pais ou responsáveis; aceitação voluntária quanto a participação. E critérios de exclusão: crianças com patologias neuropsiquiátricas; com patologia ocular ou auditiva. Para desenvolver a investigação, serão utilizados os instrumentos inicialmente para a triagem:questionário 67 sociodemográfico com perguntas que auxiliam a identificar o perfil da criança e da família; questionário de Rastreio do Desenvolvimento a fim de rastrear possíveis atrasos ou desvios no desenvolvimento neuropsicológico da criança, e o teste de acuidade e contraste visual de Freiburg - FrACT (Freiburg Vision Test), onde a acuidade visual decimal mínima para participação deverá ser obtida com o valor de 0,8. Em continuidade será apresentado um instrumento de estímulo chamado Banco de Expressões Emocionais Brasileiro – BEEB, composto por faces de pessoas representando as seis emoções básicas (alegria, medo, nojo, tristeza, raiva, surpresa) e face neutra, sendo selecionadas cinco expressões emocionais de cada uma das seis emoções básicas e as faces neutras dos modelos, considerando as de maior frequência de atribuição emocional. Neste instrumento, os participantes serão orientados a observar as fotos das faces e selecionar a resposta que melhor corresponda à expressão emocional apresentada assim que for possível identificá-la. Não haverá tempo limite para a resposta. O tempo de uso de telas será verificado por meio do Diário do uso de mídias, com o qual objetiva-se registrar, os horários de acesso, tempo de exposição, tipo de mídia usado e conteúdo consumido durante sete dias, contando com o final de semana. A partir deste diário será estabelecida uma média diária a partir do cálculo do número de horas total ao longo de 7 dias. A pesquisa será dividida em duas etapas. Primeiramente será enviado aos pais/responsáveis um convite para participação dos filhos na pesquisa. Àqueles que retornarem o convite confirmando interesse em participar do estudo com número de telefone e e-mail, será enviado um formulário eletrônico com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, questionário sociodemográfico, questionário de rastreio do desenvolvimento. O pesquisador entrará em contato com a família para agendar a coleta. Os horários e dias serão combinados de acordo com a disponibilidade da família e da criança. As crianças deverão comparecer acompanhadas ao ambiente experimental no dia e horário combinados. Os instrumentos serão aplicados individualmente com cada criança. Na oportunidade, será explicado o Termo de Assentimento para formalizar o consentimento de participação na pesquisa por parte das próprias crianças. Será lido em conjunto com o pesquisador e assinado pelos participantes. A análise dos dados será realizada com o software SPSS versão 21, analisando a frequência, estatísticas descritivas para obtenção de medidas de tendência central como média e mediana, bem como as análises inferenciais de comparação de médias e correlacionais. Em seguida, serão realizadas análises inferenciais a partir do teste Qui-quadrado a fim de avaliar a provável diferença observada entre a porcentagem de acerto das expressões faciais emocionais de acordo 68 com o grupo (G1, G2) e por sexo. Ao final deste presente projeto, espera-se ofertar à comunidade científica uma luz a mais sobre o impacto das mídias interativas sobre aspectos cognitivos, neurológicos e comportamentais de crianças na terceira infância, especialmente na realidade brasileira que carece de estudos exploratórios que investiguem a relação entre o TT e o REFE.