Introdução: A pandemia de Covid-19 inaugurou uma crise sanitária e epidemiológica que amplia a precarização da vida e revela uma vulnerabilidade que nos é constitutiva, ignorando qualquer predicação, motivo pelo qual construímos plataformas coletivas de mobilidade e sustentação da vida; estratégias como o uso de máscara, o isolamento social e a vacinação, além dos outros serviços ofertados pelo Sistema Único de Saúde que apesar dos boicotes que enfrenta tem se mostrado essencial para a construção de uma vida possível. Contudo, tais estratégias se revelaram insuficientes o que levou a uma alta taxa de mortalidade. Diante disso, nos perguntamos: quais processos de subjetivação forma/são mobilizados nas práticas clínicas de cuidado durante a Pandemia de Covid-19 no contexto hospitalar? Objetivos: Propomos como objetivo principal investigar formas de produção da clínica no trabalho hospitalar durante a pandemia de Covid-19, além de a) conhecer processos de enunciação e enunciados acerca do trabalho em saúde no contexto da pandemia; b) mapear as formas de produção da clínica nos processos de trabalho em saúde no contexto hospitalar; c) analisar processos de subjetivação e dessubjetivação da clínica no trabalho hospitalar durante a pandemia de Covid-19. Método: Utilizamos entrevistas abertas com 3 profissionais de saúde do Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (HEDA) e 2 usuários do mesmo hospital. Submetemos as informações produzidas à análise do discurso foucaultiana com inspiração na discussão de Giorgio Agamben sobre o testemunho, entendendo como este ganha força ao longo da história em cenários de catástrofes, bem como a função subjetiva desempenhado pelos sujeitos e a estrutura de narrativa. Resultados e Discussão: A Covid-19 e o hospital demostram o campo de concentração que caracteriza o Estado de exceção na contemporaneidade e nos fazem colocar em análise a governamentalidade na gestão da vida e da morte. O agravamento do quadro, já bastante precário, culminou com o desprezo das estratégias coletivas de contenção da epidemia do coronavírus; o trabalho em saúde no hospital alcançou o seu colapso. Os resultados da pesquisa mostram que foram tecidas alianças, bem como formas singulares de produção da clínica que coexistem com as formas segmentadas que caracterizam o paradigma biomédico de cuidado. O mapeamento dos quadros da precariedade no contexto hospitalar relevou os processos de saúde e doença além da produção de estratégias para combater os circuitos de produção desigual de vulnerabilidade entre os profissionais de saúde. As vidas destes foram submetidas a um devir-mercadoria sem força de implicação política, logo, não passíveis de luto. A produção da clínica médica se deu em alguns casos através da produção de uma sobrevivência vegetal do corpo, do abuso da vulnerabilidade dos usuários e da manutenção das relações de poder; contudo, estavulnerabilidade agora compreendida de forma coletiva foi capaz de produzir políticas de cuidado mais horizontais desativando a clínica hierarquizada e centralizada na figura do médico, produzindo singularidades, um resto entre os médicos e os não-médicos. A clínica como um contradispositivo, compõe formas de ampliação do cuidado, sendo capaz de desativar os circuitos de produção de sobrevivências pobres de experiência, potencializando a criação de novas normatividades vitais.