O presente estudo buscou revelar os sentidos atribuídos por mães, pais e
professoras acerca da aprendizagem escolar por meio do contato com a natureza
de uma escola de Educação Infantil da planície litorânea piauiense. Utilizou-se o
aporte teórico-metodológico da Psicologia Histórico-Cultural para apreender a
processualidade e totalidade do fenômeno. A coleta de dados se deu a partir da
análise do Projeto Político Pedagógico da escola, bem como da realização de
entrevistas semiestruturadas com professoras, mães e pais. O contexto do estudo
envolveu uma escola privada de Educação Infantil de política-pedagógica
embasada na educação montessoriana, localizada no litoral do Piauí. Ressalta-se
que, em virtude da pandemia da COVID-19, a coleta de dados se deu por meio da
plataforma digital Google Meet, sendo cumpridas rigorosamente todas as
normativas éticas em pesquisas com seres humanos, conforme o Ofício Circular
No 2/2021/CONEP/SECNS/MS, documento referente às orientações para
procedimentos em pesquisas com qualquer etapa em ambiente virtual,
resguardando os aspectos éticos das participantes. A partir disso, foram
construídos dois estudos que se configuram como artigos científicos, tendo como
objetivos, respectivamente: I) Analisar o Projeto Político Pedagógico da
instituição e investigar os sentidos atribuídos por professoras da Educação
Infantil sobre a aprendizagem escolar das crianças a partir do contato com os
elementos naturais; II) Apreender os sentidos atribuídos por mães e pais acerca
da aprendizagem escolar dos filhos em meio ao contato com a natureza mediado
pela escola (EM CONSTRUÇÃO). A fim de possibilitar uma melhor
visualização dos resultados do estudo I, foi elaborado um percurso constituído
pelos Eixos de Análise Aprendizagem escolar a partir de experiências
educativas em contato com a natureza e Projeto Político Pedagógico
subsidiando a prática pedagógica, que se perpassam dialeticamente e dão origem
às unidades analíticas, conforme descrito adiante. O percurso é composto por
ponto de partida (contextualização da escola a partir do Projeto Político
Pedagógico) e quatro paradas principais (correspondentes às unidades de
análise): I) Entrar para fora, transpor as paredes: as crianças pedem o ambiente
externo, pedem a natureza; II) Não é só estar nela, é cuidar dela: o respeito e o
cuidado com a natureza; III) Aprendizados plurais com/na natureza; e IV)
(des)caminhos frente à pandemia: “um desafio, a gente tem que se reinventar”.
Ao percorrer o percurso, a partir dos sentidos atribuídos pelas professoras, foi
revelado que o lado de fora em contato com a natureza também é lugar de
aprender. Ao transpor as paredes da sala de aula, as crianças aprendem a respeitar
e a cuidar da natureza que as cercam e das pessoas com quem estão
estabelecendo relações sociais; aprendem a história e os aspectos culturais da
região a partir das atividades pedagógicas que favorecem que a aula aconteça em
locais diversos da cidade; aprendem a desfrutar a fruta conhecendo os cheiros,
sabores, cores, texturas, árvores que a originaram, nutrientes que essas frutas
possuem, a partir dos sentidos tátil, visual, olfativo, gustativo e auditivo, bem
como conhecem as frutas típicas da região. As crianças observam, exploram e
questionam o ambiente do lado de fora da sala de aula e constroem novos
conhecimentos por meio da mediação das professoras, aprendem sobre os
animais que estão à sua volta, tem contato direto com esses animais, aprendem
sobre os ciclos das plantas, plantam a planta, tem contato com a terra, com a
água. Do lado de fora, as crianças aprendem conteúdos de português, como por
exemplo, as letras e sílabas que constituem a escrita dos elementos naturais;
conteúdos matemáticos, o peso, o tamanho, das frutas, das árvores, das folhas;
conteúdos de história, a história da cidade que vivem a partir das aulas-passeios;
conteúdos de geografia, a partir da compreensão do planeta terra e o cuidado
ambiental; conteúdos de biologia, características dos animais, das plantas, da
terra. O lado de fora representa, portanto, um espaço formativo com
possibilidades de aprendizagem escolar. Por meio deste estudo, espera-se
oportunizar reflexões acerca de uma educação mais humanizada e emancipatória
que aproxime a criança da natureza.