Esta pesquisa pretendeu compreender os sentidos atribuídos à morte pelos headbangers de Parnaíba-Piauí. Para tal percorremos três caminhos: 1)Discutimos sobre os modos contemporâneos de lidar com a morte; 2)Investigamos como a temática morte é apresentada no heavy metal; 3)Realizamos entrevistas fenomenológicas e observação participante. O primeiro corresponde ao capítulo que apresenta reflexões acerca do lugar da morte na contemporaneidade sob três perspectivas, são elas: a médica-jurídica; as atitudes do homem ocidental diante da morte e a óptica heideggeriana por meio do conceito de ser-para-a-morte. O segundo tece inter-relações entre a morte e o heavy metal, pensando sua história e desenvolvimento, bem como a morte se manifesta no composto artístico do metal. Por fim, o terceiro é o próprio encontro com o campo e com a busca dos sentidos que a morte apresenta para os fãs da música pesada. Para sua produção adotamos o método fenomenológico crítico (ou mundano), que parte da compreensão merleaupontyana que a redução fenomenológica não pode ser realizada em completude e considera inseparabilidade do homem e mundo, inspirada na ideia de ser-no-mundo. Os participantes deste estudo foram 09 fãs de heavy metal, do sexo masculino, de idade entre 20 e 27 anos. A observação participante decorreu em 06 shows de heavy metal ocorridos na cidade de Parnaíba-PI. Esses materiais deram corpo a dois eixos temáticos: o headbanger diante de sua mortalidade e a morte no mundo metálico. Estes se fragmentaram em 08 movimentos, cinco pertencentes ao primeiro eixo e três ao segundo. Eles estão discutidos na sequência: 1)Apresenta o conceito de morte dos colaboradores, que convergiu para uma compreensão do não-mais-ser como o estágio último da vida. Entretanto, o consenso cessou nesse aspecto, assim, as diferenças se abriram em duas direções: a)A compreensão da morte como uma conclusão total do ser pela falta de evidências observáveis e de pesquisas que comprovam o retorno à vida após a morte e a existência de uma vida posterior; b)Nas falas que realçaram a crença em vida no pós-morte observamos que o falecimento é apenas um fim provisório; 2)Explora os projetos dos entrevistados que prepararam-se para o chegar de seu tempo e do outro. Assim, cientes da dor das perdas buscam estratégias para enfrentá-las através da preparação, do reconhecimento da finitude; 3)Discorre sobre as relações dos headbangers com a morte, assumindo-a como uma possibilidade no curso da vida, assim como sua relação com a temporalidade e o projeto empreendido, o de aproveitar a vida, por entender a finitude como o cessar das possibilidades; 4)Apresenta como os headbangers lidaram com as perdas e evidenciou a tristeza causada pela ausência dos que faleceram; 5)Destacou a dificuldade de falar sobre perdas e morte no cotidiano, assim como a relevância de recolocá-la no dia a dia. Nele percebemos a ambiguidade no discurso dos colaboradores, que a vêem como tema para as músicas que consomem, opiniões e compreensões para discutir entre os amigos, mas durante as entrevista percebemos o receio em abordar sobre perdas e o processo de luto; 6)Relata a presença da temática morte na música pesada por meio de seus elementos visuais, letras, nomes de bandas e estilos; 7)Evidencia que o contato com o tema proporcionado pelo metal possibilitou reflexão e diálogo sobre a morte; 8)Retrata o relato dos headbangers sobre o consumo de vestimentas, leituras e de outras artes que referenciam a morte e os estigmas que sofrem. Assim, é possível destacar que as compreensões acerca da morte não existem per si, mas são construídas por instituições, que conformam e produzem nos sujeitos modos de existir e morrer, assim como ser fã de metalé plural e repleto de gradientes.