Introdução. Nas últimas décadas, tem sido observado, a nível global, o avanço do envelhecimento populacional. Esse fenômeno, caracterizado enquanto intenso e acelerado em países como o Brasil, já está mais concretizado em países europeus, como a Espanha, que se destaca enquanto uma das populações mais envelhecidas do continente europeu (Eurostat, 2020; Santos et. al., 2019). Tal movimento de transição demográfica acende holofotes para a discussão acerca da velhice e do envelhecimento, bem como, fomenta o desenvolvimento de estudos acerca desses temas (Silva & Araújo, 2020). Entretanto, entende-se que se carece de estudo psicossociais do envelhecimento, que proporcione uma compreensão ampla e interseccional a partir das vivências particulares de cada grupo social. Desse modo, chama-se a atenção para o envelhecimento de pessoas LGBT, que sofrem o denominado estresse de minorias, fator importante para a intensificação de repercussões biopsicossociais que impactam na qualidade de vida e saúde mental (SM) dessa população (Cerqueira-Santos et al., 2020; Gil-Borrelli et al. 2017). No que tange a SM, especificamente de homens gays, é sabido que as repercussões da violência externa ou interna, apresentam impactos diretos em diversos aspectos da SM, ocasionando maior nível de adoecimento, menores índices de bem-estar e produtividade laboral (Cerqueira-Santos et al., 2020). Essa realidade é extremamente preocupante no contexto Brasileiro, que desponta como um dos mais homofóbicos, com altos índices de violência, mas também no contexto Espanhol, que carece de informações específicas acerca da população LGBT (Melo et al., 2019).Referencial Teórico. É verídico que o mundo vem passando por um absoluto aumento da faixa etária da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística, o número de pessoas com mais de 65 anos deve dobrar até 2050 em contexto Brasileiro (Agência Brasil, 2023). Desse modo o Brasil se aproxima de uma realidade já estabelecida em países desenvolvidos, como os países Europeus, que têm estabelecida uma população envelhecida (Santos et. al., 2019). Esse é o caso da Espanha que terá 40 % da sua população acima dos 80, até a década de 2060 (Mohamed, 2022).Dourado (2020) e Escorsim (2021) corroboram que essa é uma fase que envolve perdas, que estas são pessoas mais solitárias em suas casas e vivências, esses fatos concatenam para a importância do combate ao etarismo e a implementação da preservação da QV para um envelhecimento saudável (Veras & Oliveira, 2018). Atrelado a isso, o WHOQOL (World Health Organization Quality of Life) estabelece que QV engloba a saúde física e mental, aspectos subjetivos e socioemocionais, além do nível de independência e a sua abrangência nos sistemas de valores como metas, expectativas, padrões e preocupações dos indivíduos (OMS, 1997). Assim, evidencia-se que as experiências do envelhecer são perpassadas por apreensões individuais.Nesse interim, idosos gays perpassam por cenários que englobam os aspectos que dizem respeito a idealização de uma beleza corporal, abandono familiar e perdas de direitos, com isso, tais fatos impactam diretamente na QV e no envelhecimento dessa população (Gouveia et al., 2023). Ademais, todo o histórico de intolerância sofrido ao longo da vida de homens gays, o heterossexismo, riscos de se assumir para a família e para a sociedade pode influenciar diretamente na QV, tendo em vista, ainda, as notáveis afetações no bem-estar e na saúde dessas pessoas (Silva et al., 2022). Não obstante, destaca-se a necessidade de avanço nos estudos psicossociais acerca das vivências de grupos vulnerabilizados, como homens gays, em contexto Espanhol. A Espanha é um dos países europeus mais envelhecidos e apresenta um extenso e significativo número de pessoas LGBT (Eurostat, 2020). Entretanto, Gil-Borrelli et al. (2017) afirmam que existe desconhecimento no campo cientifico acerca das vivências dessa população, apesar do constante impacto da violência sofrida sobre a QV e SM.A SM é um fenômeno complexo e multifacetado, caracterizado, a partir da definição da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2012) por um estado de bem-estar que se relaciona à forma como cada pessoa relaciona-se com suas próprias habilidades, lida com os fatores estressantes do cotidiano e trabalha de maneira produtiva, contribuindo com a sua comunidade. Apesar de sua complexidade, muitas vezes SM tende a ser concebida a partir de uma ótica psiquiátrica, como ausência de transtornos metais (Purtle et al., 2020).Apesar de que homens gays também apresentam alta prevalência de transtornos mentais, quando comparado com homens heterossexuais, inclusive ao se pensar nas manifestações da violência internalizada (Cerqueira-Santos et al., 2020; Kabir & Brinsworth, 2021). Os impactos na vida desses indivíduos podem ser manifestos em aspectos biopsicossociais, tais como, maior incidência de adoecimentos orgânico, acompanhado de baixa busca dos dispositivos de saúde; diminuição nos níveis de bem-estar, QV e produtividade laboral; aumento do número de lesões, independente da intencionalidade (Drissi et al., 2020).Dado o exposto, evidencia-se a importância em expandir o conhecimento científico, sob ótica psicossocial do envelhecimento de homens gays, compreendendo fenômenos como a SM e QV que estão estritamente relacionados às implicações idiossincráticas da comunidade Gay. Para tanto, esse trabalho composto de 3 estudos, terá como base teórico metodológica, a Teoria das Representações Sociais (TRS).A TRS foi elaborada por Serge Moscovici, tendo como base as Representações Coletivas de Durkhein. Visto que não identificava com frequência representações coletivas nas sociedades contemporâneas, Moscovici inaugurou uma ramificação sociológica de psicologia social, e estabeleceu o conceito de RS (Carvalho & Arruda, 2008). Nesse sentido, baseado no que propôs Moscovici, Jean Claude Abric, juntamente com colaboradores propões uma nova abordagem da TRS, denominada de Teoria do Núcleo Central. Essa teoria parte de duas ideias principais: As representações, concomitantemente, são rígidas e flexíveis; as representações são coletivas e também caracterizadas por diferenças individuais (Mazzotti, 2002). Por fim, se buscará a seguir, ao longo de três estudos, apreender as RS desses sujeitos acerca do envelhecimento; QV e SM em contexto brasileiro e europeu.Objetivos. Geral: apreender as representações sociais acerca do envelhecimento, da QV e da saúde mental entre homens adultos gays no Brasil e na Espanha.Específicos: Comparar as RS do envelhecimento entre homens gays brasileiros e espanhóis; verificar a estrutura prototípica das RS da SM entre homens gays no contexto brasileiro e espanhol; identificar os processos sócio cognitivos acerca da QV entre homens gays do Brasil e da Espanha; elaborar material educativo bilíngue, no formato de cartilha, sobre Envelhecimento, Saúde Mental e QV, voltada para homens gays.Método. A pesquisa é qualitativa, descritiva e exploratória e terá dados transversais. Participarão 400 homens gays (Brasil: 200 – Espanha: 200). Os critérios de inclusão são: ter 18 anos de idade ou mais; ser brasileiro ou espanhol; Identificar-se como homem gay. Os critérios de exclusão foram: Ser menor de 18 anos; não se identificar como Homem gay; não ter nacionalidade brasileira ou espanhola. Serão utilizados três instrumentos: Questionário biosociodemográfico; TALP; Entrevista Semiestruturada. Os dados do questionário sociodemográfico serão analisados pelo software IBM SPSS 25.0, a partir de estatísticas descritivas. Já os dados referentes à TALP e à entrevista semiestruturada, serão analisados por meio do software Iramuteq versão 0.7 a partir da análise prototípica e Classificação Hierárquica Descendente, respectivamente. Encaminhamentos para os resultados. O Presente estudo encontra-se em fase final da coleta de dados. Atualmente, conta-se com o total de 375 participantes (200 participantes brasileiros e 189 participantes espanhóis). Vale ressaltar que a coleta de dados em contexto Espanhol conta com a supervisão e apoio de colaboradores Espanhóis, da Universidade de Granada – UGR (Espanha).