Nascer, viver e morrer, são etapas da vivência humana em seu mais primitivo cerne. Porém, diversas marcas separam e unem a maneira que tais experiências são vivenciadas, principalmente no que tange questões relacionadas à aspectos étnico-racias, no contexto ocidental, tendo em vista que ser e viver resquícios de África no Brasil, representam marcadores que nos ligam aos nossos e as nossas. Nesse sentido, essa pesquisa tem como objetivo investigar marcadores das africanidades nas concepções de nascimento, vida e morte em pessoas negras no interior do Piauí, a partir das epistemologias africanas. Tais marcadores podem ser identificados nas vivências, experiências e cotidiano de pessoas negras na periferia de Corrente-PI, município onde nasci. Para relatar tais histórias, que são ao mesmo tempo particulares e sociais, percorri o trajeto da Escrevivência de Conceição Evaristo, pois me possibilitou retratar experiências coletivas, na medida em que se compreende existir um comum constituinte entre autora e protagonista, quer seja por características compartilhadas através de marcadores sociais, quer seja pela experiência vivenciada, ainda que de posições distintas. Ao me encontrar com pessoas negras em um bairro vulnerabilizado na minha cidade natal, percebi que muitos marcadores africanos nas concepções de nascimento, vida e morte foram se perdendo e alguns que ainda permaneciam, não eram reconhecidos por aquela comunidade como marcador de suas raízes africanas. Isso me movimentou para ir pontuando esses marcadores na comunidade, mas também me movimentou a buscar entre pessoas negras de territórios de matrizes africanas da cidade de Corrente essas concepções, a fim de tentar achar mais sobre os resquícios de África em terra correntina. Assim, no dingo-dingo, ir e vir, dos encontros, foi possível reconhecer como as religiões afro-brasileiras e de matrizes africanas mantém vivas as concepções africanas sobre a vida e são capazes de nos devolver o que nos é roubado pelo ocidente: marcadores da nossa africanidade que podem nos resgatar saúde mental. Portanto, foi possível perceber a concepção de morte ocidental, identificar marcadores das africanidades que resistem no contexto vivenciado e retomar vida e esperança através da busca pelas raízes do povo negro no interior piauiense.