Com a ampliação dos estudos e conhecimentos acerca do Transtorno do Espectro
Autista (TEA), a sexualidade tem sido um tema emergente, especialmente
considerando as características clínicas do próprio transtorno, como dificuldades
na comunicação, no reconhecimento de emoções e na interação social. No
entanto, o estudo sobre a sexualidade de pessoas adultas autistas, inerente à
condição no espectro, ainda é recente e, historicamente, esteve associado a
estereótipos ou não consideraram a percepção das próprias pessoas
diagnosticadas. Diante disso, a presente dissertação teve como objetivo geral
analisar como a sexualidade de autistas adultos tem sido debatida pela literatura
científica. Para isso, estrutura-se a partir de dois estudos de revisão sistemática de
literatura que tiveram como objetivos: I) investigar a produção científica nacional
e internacional sobre autismo acerca da sexualidade de pessoas autistas adultas; e
II) investigar os instrumentos e metodologias que têm sido utilizados para
avaliação da sexualidade de pessoas autistas. Para tanto, foram realizadas buscas
nas seguintes bases de dados: Portal de Periódicos CAPES, PubMed, Scielo,
PsyINFO, EMBASE, SCOPUS, Medline, BVS, Springer. Foram consideradas as
etapas de busca, análise de títulos, resumos e leitura na íntegra, bem como
exclusão de artigos duplicados e fora dos critérios de elegibilidade. O Estudo 1 é
composto de 20 artigos na amostra final, e o Estudo 2, de 05 estudos empíricos
com metodologias diversas. Os temas mais abordados pelos artigos que
compuseram esta revisão foram: grupos de minorias sexuais e de gênero,
relacionamento romântico, experiências sexuais e educação sexual. Os resultados
apontam que a sexualidade e os relacionamentos românticos íntimos são uma
parte importante da vida e do bem-estar de pessoas autistas, contrariando
estereótipos de que autistas são, em sua maioria, assexuais. Observou-se que
pessoas autistas, em comparação com pessoas não autistas, tendem a se
identificar mais fora dos padrões da heteronormatividade, bem como podem estar
mais vulneráveis e expostas a riscos em seus relacionamentos amorosos e
sexuais. Como principais ferramentas de avaliação, as pesquisas utilizam-se de
instrumentos que avaliam domínios como identidade de gênero e/ou percepção
de gênero, orientação sexual, comportamento sexual, raça e etnia, conhecimento
autorreferido sobre saúde sexual e avaliação de conhecimento sobre saúde
sexual, assim como, o grau de inteligência dos sujeitos. Ressalta-se que nos
estudos foram utilizados escalas e instrumentais já publicados na literatura
cientifica. Destaca-se a importância de pesquisas que incorporem a percepção de
pessoas autistas sobre suas próprias experiências sexuais, do desenvolvimento de
políticas assistenciais, educacionais e de saúde que considerem as particularidades da sexualidade no TEA, a promoção de educação em saúde, qualificação de profissionais de saúde e tratamentos adequados, buscando a garantia do direito à expressão sexual e favorecendo uma vivência da sexualidade mais saudável, consciente e protegida. Por fim, compreende-se a importância de se investigar a sexualidade de pessoas autista a partir de uma perspectiva heterogênea e não estigmatizada, investido em estudos que avaliem os diferentes domínios de sexualidade e de metodologias diversificadas.