Introdução: Saúdo os mais velhos, os mais novos e os meus iguais. Para abrir caminhos para esta escrita, peço licença a Èṣú, operador dos processos de comunicação e transmutação abertura e fechamento. Neste estudo, as encruzilhadas têm lugar plural, como signo e operador epistêmico para compor trânsitos e interseções e transversalizações, mas também como método de análise e intervenção clínica. Interessa a esta pesquisa especificamente o encontro da clínica com o que estamos chamando de subjetividades periféricas, como forma de se referir às vidas que estão afastadas dos diversos centros: políticos, sociais, econômicos, étnico-raciais, de gênero e sexualidades, etc. A partir da inspiração das epistemologias das encruzilhadas de Exu, os objetivos deste trabalho foram descritos como caminhos e podem ser pensados separadamente e de modo entrecruzado, pois são indissociáveis e co-imbricados: Caminho Um: Cartografar a clínica em seu encontro com subjetividades periféricas, Caminho Dois: Mapear processos interseccionais das subjetividades periféricas em seu encontro com a clínica, Caminho Três: Experimentar a invenção de uma clínica descolonizada e descolonizante que sentipense onde/quando/com quem se encontra; Caminho Quatro: Entrecruzar a clínica com epistemologias das encruzilhadas. Como método de pesquisa utilizado, a cartografia de Deleuze e Guattari foi atravessada por Exu como intercessor em seu caminhar como processo de constituição de uma pesquisa que permite desvios, modificações, interferências, diferenCriações, a partir do primado dos encontros, do entrecruzamento entre vidas periféricas e a clínica que contempla um coletivo de forças para empreender uma análise das conexões, dos cruzos, das variações, inseparabilidade entre conhecer-fazer, pesquisar-intervir, crítica-clínica. A partir da análise de diários cartográficos construídos na experiência do encontro da clínica subjetividades periféricas no meu trabalho no Programa Corra pro Abraço em Feira de Santana/Bahia em 2018 e na psicoterapia online entre 2020 e 2021. Foram analisados o entrecruzamento de processos analíticos com os processos de subjetivação e resistência das subjetividades periféricas de 4 participantes: uma mulher negra em situação de rua, uma travesti negra, um homem negro em situação de rua e uma bicha preta. Como análise dos dados, propomos o que estamos chamando de Encruzanálise que, a partir das epistemologias das encruzilhadas, foi percorrida em duas vias: enquanto entrada por analisar quais linhas-caminhos (micro e macro) se entrecruzam nas narrativas na constituição das subjetividades e saída ao analisar-propor a criação-destruição em movimentos de intensificação-multiplicação-pluralização de caminhos de saída, de novos possíveis e resistência tanto das subjetividades periféricas, quanto da clínica. Como resultados alcançados através da cartografia do encontro da clínica com dois personagens com pseudônimos Maria Molambo, Gira Mundo, Maria Navalha e Madame Satã (enquanto entidades que habitaram/habitam as ruas), pudemos mapear nas subjetividades periféricas analisadas processos plurais de natureza macro e micropolítica que envolviam racismo (estrutural, institucional, interpessoal), machismo, aporofobia, violência policial, sorofobia, necropolítica, mas também processos de resistência, potencialização e intensificação das vidas periféricas na arte, nas sabedorias das oralituras periféricas. Os resultados destas encruzanálises apontam para a potência da experimentação de outro ethos clínico através da influência das epistemologias das encruzilhadas em gingas de uma clínica que sentipensa onde/quando e com quem se encontra.