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Banca de QUALIFICAÇÃO: MAYLLA MARIA SOUZA DE OLIVEIRA

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de MESTRADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: MAYLLA MARIA SOUZA DE OLIVEIRA
DATA: 14/12/2022
HORA: 14:30
LOCAL: Online/Remoto - Google Meet
TÍTULO: Cartografia de escrevivências: modos de viver e fazer arte de pescadoras artesanais
PALAVRAS-CHAVES: Mulheres; Pescadoras artesanais; Cartografia; Território
PÁGINAS: 50
GRANDE ÁREA: Ciências Humanas
ÁREA: Psicologia
RESUMO:

Introdução: Historicamente, os povos e as comunidades tradicionais têm seus territórios invadidos e expropriados para exploração de riquezas e violação de direitos em nome da ordem do Estado e do progresso do capital. De Norte a Sul do Brasil, devido ao avanço de grandes empreendimentos econômicos no território das comunidades tradicionais pesqueiras, as pescadoras e os pescadores artesanais têm seus modos de vida, constantemente, subtraídos. Nesse cenário, são as mulheres que estão à frente da luta em defesa da vida e do território das águas, por isso elas são ameaçadas de morte o tempo todo. Inspirada nas “escrevivências” de Conceição Evaristo (Duarte & Nunes, 2020), a partir das quais podemos entender que nossas memórias são construídas através de nossas histórias de vida e que as mesmas são reinventadas a cada momento assim como a água corrente do mar, que enche e vaza, ora agitada, ora calma, eu compreendo a importância de escrever, falar e narrar sobre muitas dessas memórias vividas e compartilhadas com tantas mulheres que sobrevivem em um território de pesca artesanal. Neste estudo, apresentamos uma análise dos processos de subjetivação a partir das escrevivências que expressam as relações de poder em disputa e as linhas de forças da vida no território tradicional pesqueiro. Portanto, iremos apresentar narrativas de pescadoras artesanais, seus modos de vida e como elas se entrelaçam. Trata-se de escrevivências de mulheres dos estados do Ceará, do Maranhão, do Piauí e de outros territórios das águas, campos e florestas afetados pelo hidronegócio, agronegócio e por outros empreendimentos que ameaçam a vida nesses espaços: a vida desses povos, a vida dos ecossistemas e sua biodiversidade. Escrevo essas linhas e através delas reconheço e transcrevo a voz dessas mulheres das águas e reafirmo que ninguém pode falar por nós, porque a nossa força vem do nosso cantar e nós queremos ser ouvidas e assim será. Muitas mulheres, em um cenário nacional sustentam a si mesmas e suas famílias com o trabalho da pesca artesanal, que está diretamente relacionado ao seu modo de vida no território em contextos de comunidades tradicionais, embora ainda tenham que se impor para que sejam reconhecidas como pescadoras, e acabam enfrentando uma série de obstáculos para que consigam tão arduamente serem vistas como tais. Suas afetações e atravessamentos estão diretamente ligados a vida no território e aos modos que essas mulheres encontram para sobreviver e resistir (Flores & Trevizan, 2015, 2019). A partir do pensamento ecofeminista de Silvia Federici (2019, 2020), com ênfase na reprodução da vida e no trabalho reprodutivo da pesca artesanal, e a partir e da concepção de comunidade das sobreviventes da transfeminista Bru Pereira (2021) e também da minha própria experiência, percebo que se trata de uma luta coletiva e importante no que diz respeito ao devir mulher à produção de subjetividade. Desta forma, a arte de viver do trabalho reprodutivo da pesca artesanal (arte de pescar, de bordar e de confeccionar artefatos da pesca) em toda sua amplitude proporciona uma reinvenção e reconstrução diária, expressa nas diversas memórias e histórias de nossas lutas (Pontes, 2021). Assim as linhas que pescam e as linhas que bordam a vida se entrelaçam para compor caminhos comuns na conquista por nossos direitos e reconhecimento, ocupando espaço em lugares anteriormente tão predominantemente masculinos e nos provocam a construirmos juntas tantas histórias de vida, de luta e resistência. As pescadoras artesanais, através de seus ofícios e com a sua voz, encontram maneiras de se reinventar em um cenário patriarcal, colonial e opressor. Portanto, este estudo nasce de um canto de pescadora que resiste, e de um ponto que molda as linhas da história de tantas mulheres que querem ser ouvidas e nos fazem refletir e questionar: Como o trabalho reprodutivo da pesca artesanal e os modos de vida das pescadoras se tornam instrumentos de luta e resistência frente as afetações sofridas pelas invasões e ameaças ao território? Como se constituem os processos de subjetivação e escrevivências de pescadoras artesanais diante das tentativas de dominação por parte de um poder capitalista? Para reconhecer o lugar da pesca artesanal nos processos de subjetivação e enunciação da mulher pescadora e artesã, diante da discriminação e preconceitos sofridos, traçamos os seguintes objetivos: Geral: Cartografar processos de subjetivação, sujeição e resistência, em escrevivências de pescadoras artesanais; Específicos: a) Mapear as relações de poder em disputa e as linhas de forças da vida no território tradicional pesqueiro; b) Caracterizar a reprodução da vida e o trabalho reprodutivo das pescadoras artesanais e sua relação com o corpo-território; c) Analisar processos de subjetivação em modos de viver e resistir de pescadoras artesanais. Método: A pesquisa realizou-se através da cartografia de escrevivências, com recursos heteroautobiográficos, tendo em vista que parto da narrativa de minha própria escrevivência e devir mulher em um território pesqueiro, uma vez que estou inserida e participo do contexto das vidas de outras mulheres que também vivem em territórios das águas, e estou atravessada e afetada pelas histórias dessas diferentes mulheres em um contexto amplo. Trata-se de um modo de acompanhar os processos de subjetivação, marcados por atravessamentos macro e micropolíticos (Guattari & Rolnik, 2010), denúncias e enunciados que expressam sujeição e resistência, desejos, percepções, sentimentos, modos de agir e sentir, expressões que não são ditas, porém são vistas dentro de distintas características, de forma que produzem afetação ao corpo-território Haesbaert, R. (2021), à pessoa, ao lugar ou ao momento e podem ser matérias de expressão de narrativas, práticas, ações, discursos e gestos das mulheres nos modos de viver e fazer arte que compõem está cartografia. A produção das informações se deu através da participação observante em aproximadamente 30 momentos com pescadoras artesanais que vivem em comunidades tradicionais pesqueiras do Brasil, por meio das vivências, memórias, histórias, narrativas, encontros, rodas de conversa e reuniões que ocorreram presencial e remotamente, em virtude da pandemia por Covid-19, descritos na tabela 1, no corpo do texto. A exemplo: a) VI Encontro Nacional das Pescadoras; Tenda do escuta; Mulheres na luta por moradia, terra e território (Live da resistência); IV seminário interestadual de pescadores e pescadoras: Construindo o bem viver (Crateús-CE); XV Romaria da terra e das águas do Piauí (Piripiri-PI); VIII Grito da Pesca Artesanal (Luziânia-GO) e reuniões presenciais de moradores, pescadoras, pescadores e movimentos sociais frente a situações de conflitos no território da Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba (APA) e outros. Espaços de escuta, acolhimento, interação e troca de saberes de pescadoras, pescadores, professores e alunos em encontros articulados. Resultados: Percebeu-se que embora existam tantos percalços as mulheres pescadoras artesanais, que vivem nos territórios das águas, buscam maneiras de se reinventar e resistir, traçando caminhos para sobreviver a um sistema capitalista que insiste em nos matar a todo instante. a) reconhecendo que nossos corpos se conectam intimamente ao território sagrado, atravessando toda a subjetividade do devir mulher, assim potencializando a luta e a resistência pela preservação do território-corpo; b) articulando-se enquanto movimentos coletivos de mulheres e organização pela luta de nossos direitos, valorizando lideranças femininas e o potencial de nossas vozes; c) Os modos de vida que resistem, encontram-se na luta, nas relações, no bem viver e no comum gerado pela prática da pesca artesanal nas comunidades que envolve os modos de reinvenção e sobrevivência, considerando a importância de nossas histórias e assim de nossa ancestralidade, na construção de escrevivências, que compõem cartografias de lutas nos territórios das águas. Portanto é necessário coragem de enfrentar as lutas diárias pela conquista de nossos direitos, afinal, não são tempos fáceis, é preciso discutir e combater os sistemas coloniais capitalísticos que invadem e desrespeitam nossas vidas, nossos corpos, nosso território. Hoje em dia, graças aos movimentos feministas e os coletivos de lutas, tais como Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) e Articulação Nacional das Pescadoras (ANP), através do conhecimento adquirido e o respeito aos saberes tradicionais, são muitas as conquistas alcançadas. Além de sinônimo de resistência, a pesca artesanal é fonte de renda e sustendo, embora ainda haja profissões bem realizadas por mulheres que não ganham o devido reconhecimento. As mulheres, não mães, mães solos e mães de família extensivas, as executam com excelência, são pescadoras de sonhos, são bordadeiras de realidade, são mulheres que com coragem e determinação lutam para serem ouvidas e reconhecidas como tais. São mulheres e mãos que fazem suas histórias.


MEMBROS DA BANCA:
Presidente - 2231565 - ANTONIO VLADIMIR FELIX DA SILVA
Externo à Instituição - MICHELE DE FREITAS FARIA DE VASCONCELOS - UFS
Interno - 1728592 - SHARA JANE HOLANDA COSTA ADAD
Notícia cadastrada em: 30/11/2022 10:01
SIGAA | Superintendência de Tecnologia da Informação - STI/UFPI - (86) 3215-1124 | © UFRN | sigjb09.ufpi.br.instancia1 07/11/2024 18:25