Introdução: A pandemia ocasionada pela propagação do novo coronavírus tem sido um problema de saúde pública global que além de instaurar danos a nível sanitário, político e humanitário, expôs os extremos de uma crise econômica. A rápida propagação da doença que encontrou no distanciamento social uma forma de prevenção promoveu rápidas mudanças no mercado de trabalho, desembocando efeitos mais desastrosos na informalidade, por tratar-se de um grupo de trabalhadores sem respaldo legal de direitos. As medidas relacionadas ao isolamento social para conter a velocidade de transmissão da COVID-19, e posteriores medidas de proteção individual e coletiva para a retomada gradual das atividades presenciais, acarretam novos desafios, sobretudo, aos trabalhadores que são afetados em níveis diferenciados, pois a rotina da vida e dos modos de relacionar-se, convidam o trabalhador a rever os sentidos do seu trabalho e a sua capacidade de regular as emoções frente ao contexto, refletindo no quanto este se percebe satisfeito com a sua ocupção. Neste sentido, formulou-se o problema de pesquisa “Quais os sentidos do trabalho dos vendedores de comidas de rua no contexto pandêmico, e como estes influenciam em sua satisfação laborativa?”. Tal indagação será respondida à luz dos elementos presentes na realidade na cidade de Parnaíba-PI, sob a hipótese de que os sentidos do trabalho refletem na experiência pessoal de satisfação cotidiana. Fundamentação Teórica: Enriquez (2019) discute o trabalho como um elemento fundamentalmente integrador da sociedade. Nas civilizações antigas a atividade laboral era compreendida como sinônimo de tortura ou de um algo apenas ligado à necessidade, no entanto, o momento da revolução industrial inglesa, acompanhada pelas revoluções políticas americana e francesa, culminaram na percepção de que a história humana se produz ao lado da produção econômica. A figura do trabalhador tornou-se então central e a atividade laboral encarada como um fazer para além da utilidade. Borges-Andrade (2002) afirma que a Psicologia Organizacional do Trabalho (POT) surgiu com o intuito de aprofundar os dois objetos essenciais de atenção da área – as organizações e o trabalho, 48 e para melhor aproveitar as experiências e pesquisas dos demais campos de saber, junto aos desafios de conhecer aspectos referentes à relação sujeito-trabalho com vistas à ampliação das temáticas associadas às organizações capitalistas tradicionais, pois na contemporaneidade, a atuação profissional não se resume ao vínculo formal de trabalho. A definição do que seja a informalidade não é consensual no Brasil. Duarte (2016) aponta que a maioria dos autores define trabalho informal como a atividade exercida pelos indivíduos à margem da legislação trabalhista ou os que não contribuem para a seguridade social pública. No caso brasileiro, seu efetivo total seria obtido pelo somatório dos trabalhadores que não têm assinada a sua Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS e os que trabalham de forma autônoma. Presente no setor terciário da economia, o mercado de trabalho informal conta com diversas possibilidades de inserção, dentre estas possibilidades destaca-se o comércio de comidas no meio urbano, um ramo em crescimento, que tem se utilizado das ruas, bem como calçadas, passarelas das grandes avenidas e locais de concentração populacional, como espaços de geração de renda, nos quais encontram-se uma variedade de alimentos para consumo imediato. A geração de novos postos de trabalho na esfera do comércio informal possibilita pensar sobre a legitimidade destes atores na ocupação não apenas de um nicho econômico, mas do próprio espaço público. Mediando o espaço e o tempo com a percepção subjetiva do trabalhador, estão o os sentidos do trabalho, que, conforme Gondim e Borges (2020) conectam o trabalho aos sentidos da vida, sendo o núcleo dos significados adquiridos ao longo do processo de socialização a qual o indivíduo foi submetido. Os sentidos justificam o porquê se trabalha e têm papel fenomenológico e existencial nas nossas vidas, apresentando-se como uma face afetivo-cognitiva que expressa a experiência pessoal na realização cotidiana do trabalho. Conforme Abbad e Borges-Andrade (2014), a satisfação é um estado emocional positivo ou de prazer, resultante de um trabalho ou de experiências envoltas neste labor. A satisfação fala dos efeitos do trabalho sobre a saúde mental do trabalhador, da relação entre trabalho e vida familiar e até da interação entre o trabalho e vínculos afetivos pessoais. Objetivos: O presente estudo objetiva identificar, no contexto pandêmico de Parnaíba-PI, os sentidos atribuídos ao trabalho e a sua interlocução com a satisfação, por parte de laborais informais do setor alimentício. Os objetivos específicos pautam-se em explorar a trajetória que conduziu os comerciantes informais de comidas de rua ao seu atual fazer laborativo e apreender aspectos de suas vivências que os mobilizam para o trabalho; conhecer a dinâmica de trabalho dos vendedores de comidas de rua, considerando o ambiente em que ocorre a atividade; perquirir os processos 49 regulatórios dos modos de pensar, agir e sentir frente ao trabalho; compreender a multidimensionalidade e dinamicidade das interações pessoais e ambientais que, associadas ao trabalho, fundamentam os sentidos do fazer dos vendedores de comidas de rua; perceber as implicações do contexto pandêmico na dimensão subjetiva do trabalho nas vivências das atividades realizadas; e compreender a satisfação laborativa sob a percepção dos vendedores de comidas de rua parnaibanos. Método: É uma investigação com abordagem qualitativa e de natureza exploratória. Gerhardt e Silveira (2009) explicam que a pesquisa qualitativa preocupa-se com aspectos da realidade não quantificáveis, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais; e enquadra-se em uma pesquisa de natureza exploratória por concordar com Gil (2007), ao afirmar que este tipo de estudo proporciona uma maior familiaridade com a temática, e possibilitar a construção de hipóteses, embora não se possa fazer generalizações conclusivas. Participantes: Laborais informais (quantidade em fase de levantamento) que atuem na venda de comidas de rua em Parnaíba-PI, com idade igual ou superior a 18 anos, não fazendo discriminação por sexo. Instrumento: Roteiro de entrevista semiestruturada com questões referentes à temática proposta, acompanhada de um questionário sócio- demográfico para a caracterização dos participantes. Será utilizada ainda a Técnica de Associação Livre de Palavras – TALP, tendo como palavras de estímulo sentidos do trabalho e satisfação no trabalho. Procedimentos: O projeto será submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa – CEP da Universidade Federal do Delta do Parnaíba–UFDPar com fundamento nas normas e procedimentos éticos pregados pela resolução 466/12 + 506/16 do Conselho Nacional de Saúde, responsável por oferecer as normas e diretrizes que regulamentam pesquisas em Ciências Humanas e Sociais cujos procedimentos metodológicos envolvam a utilização de dados obtidos diretamente com os participantes. Após a aprovação do mesmo, os participantes serão contatados virtualmente e convidados a contribuir com o estudo, sendo conscientizados do caráter voluntário e sigiloso da pesquisa e informados que podem desistir a qualquer momento. Aos que aceitaram, lhes será apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, esclarecendo o caráter sigiloso das informações, e possibilidade de desistência. Vale ressaltar que a entrevista acontecerá por meio remoto (Google Meet). Análise de dados: Será realizada a técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin (2011), técnica esta utilizada em pesquisas psicossociais, comunicação das massas e outras modalidades envolvendo discursos. Resultados Esperados: Com opresente estudo, pretende-se compreender por meio de uma análise psicossocial, que os sentidos do trabalho enquanto 50 o núcleo das vivências adquiridas ao longo do processo de socialização, mediam a relação do indivíduo com a sua atividade laboral, sem desconsiderar o contexto no qual está inserido; atentando-se ainda para a dinamicidade dos sentidos laborais através das trocas entre o trabalho e o trabalhador como fatores que influenciam diretamente na satisfação