Introdução: Nas últimas décadas tem-se percebido mudanças no fenômeno demográfico(Peixoto et al.,2017;Valença etal.,2017) eo acelerado processo de envelhecimento populacional, dado o aumento da expectativa de vida, as baixas taxas de fecundidade e o controle das medidas sanitárias(Pereira et al., 2015).No Brasil, desde meados da década de 1980 observam-semudanças na pirâmide etária, posto que a população com mais de 60 anos tem aumentado(Magalhães et al.,2017). O Chile também é um dos países da América Latina que tem experienciado o aumento populacional de idosos, com projeções de que em 2040 mais de 20% dos habitantes terão mais de 60 anos e 6% atingirá os 80 anos de idade (Leiva et al., 2020).Em ambos os contextos é perceptível a feminização da velhice. Entretanto,nas últimas décadas percebeu-se que a expectativa de vida saudável não teve a mesma taxa de crescimento que a expectativa de vida, o que significa que as pessoas estão vivendo mais tempo, mas não necessariamente com qualidade. Dentre outros fatores, a globalização facilitou adisseminação de agentes patológicos, dentre os quais está o novo coronavírus, considerado um grave problema de saúde pública (Ornell et al.,2020). A fim de conter o avanço da pandemia, a Organização Mundial de Saúde – OMS recomendou o isolamento sociale a suspensão de atividades que provocassem a aglomeração de pessoas (Kisller et al., 2020). Diante disso, surge a seguinte indagação: quais as Representações Sociais da Qualidade de Vida – QV na velhice e da pandemia da Covid-19 entre idosas brasileiras e chilenasfrente a realidade pandêmica? A relevância social e acadêmica desta pesquisa reside no fato de que será realizada em dois países (Brasil e Chile) que passam por um processo irreversível de envelhecimento de sua população geral, com diferentes aspectos sociodemográficos e culturais, e que foram atingidos de forma significativa pela pandemia. Ademais, poderá auxiliar os profissionais de saúde no desenvolvimento de estratégias voltadas para a QV na velhice diante do cenário pandêmico. Fundamentação Teórica: A longevidade 9 implica não só em transformações demográficas, mas em desafios para as Políticas Públicas, na medida em que essas mudanças afetam as dimensões da vida social,os aspectos ligados ao trabalho, as políticas sociais, de saúdee as questões que se entrecruzam com o gênero, pobreza, entre outros(Leite & Araújo, 2017). Os idosos são assim chamados em razão das diferenças sinalizadas na aparência, funcionalidade, produtividade, e nos papéis sociais que ocupam em comparação aos outros adultos.Estas distinções estão imbricadasem um determinado contexto sociocultural(Neri, 2013). Neste sentido, o marcador idade também apresenta variações, a depender se se trata de países desenvolvidos, onde os idosos são assim considerados a partir dos 65 anos, ou de países em desenvolvimento, onde o limite mínimo de idade é de 60 anos. Destaca-se que velhice e envelhecimento são dois conceitos distintos. A velhice é a última etapa do ciclo vital. Já o processo de envelhecimento caracteriza-se como um conjunto de transformações que estão sujeitas, em grande parte, à história de vida, comportamentos, adaptação ao meio e aos fatores genéticos. O envelhecimento tambémnão é homogêneo e único para todas as pessoas. Neste sentido, ao investigar a QV sob a perspectiva dos idosos é necessário levar em conta as particularidades deste grupo. Segundo a OMS (WHO, 2012 [1998]), a QV é definida como a percepção que os indivíduos têm de sua posição na vida no contexto da cultura e dos sistemas de valores em que estão imersos e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Observa-se, portanto, a multidimensionalidade conceitual, conectada com o contexto cultural e com a subjetividade do indivíduo. A literatura aponta ainda que o contexto pandêmico pode ter agravado o sentimento de solidão entre os idosos,dada a vivência do luto coletivo, a alta letalidade vivenciada por esse grupo etário e a fragilidade das Políticas Públicas. Neste percurso, a Teoria das Representações Sociaistem sido largamente utilizada como ferramenta teórica e metodológica na compreensão desses fenômenos que permeiam a sociedade. Ela foi fundada por Moscovici no contexto do desenvolvimento da Psicologia Social Europeia, por volta dos anos 1960, e tem o propósito de estudar os conhecimentos produzidos no senso comum. As Representações Sociais– RS são sustentadas pela influência social da comunicação e são produtos da interação, demarcadas pela dinamicidade ou plasticidade. Elas não podem ser puramente tomadas como variáveis explicativas. Antes disso, o foco de interesse está em como se dá a construção dessas representações(Moscovici, 2007). Além disso, os fatores culturais se configuram como elementos importantes no estudo das RS, as quais são sensíveis ao contexto e às transformações da sociedade. Objetivo: O presente escrito tem como objetivo geral apreender as representações sociais da QV na 10 velhice frente a pandemia da Covid-19 entre idosas brasileiros e chilenas. E como objetivos específicos: identificar o campo semântico das representações sociais da QV, da pandemia da Covid-19 e da velhice entre idosas brasileiras e chilenas, a partir dos 60 anos; apreender o conteúdo das representações sociais da QV, da pandemia da Covid-19 e da velhice entre idosas brasileiras e chilenas, a partir dos 60 anos; realizar análise comparativa das representações sociais dessas idosas em relação à QV, pandemia da Covid-19 e velhice; elaborar cartilha informativa sobre a QV e convivência com o Covid19 na velhice, a ser disponibilizada aos idosos, cuidadores e profissionais de saúde. Método: Este projeto de pesquisa faz parte de um projeto “guarda-chuva” intitulado “Qualidade de Vida e Atitudes frente a Pandemia do COVID-19: um Estudo Transcultural entre Idosos”, que foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa – CEP da Universidade Federal do Piauí – Campus Ministro Petrônio Portella e aprovado em 30 de agosto de 2021, conforme parecer de número 4.942.097 e CAEE 47883121.5.0000.5214. Foram observadas as recomendações apresentadas nas resoluções do Conselho Nacional de Saúdede nº 466/2012 e nº 510/2019, que tratam da realização de pesquisa com seres humanos e determina diretrizes éticas específicas para as ciências humanas e sociais, respectivamente. Trata-se de um estudo descritivo-exploratório, de abordagem qualitativa e transcultural, com recorte transversal, amostra não probabilística e por conveniência.A amostra será composta por 200 mulheres idosas, das quais serão 100 brasileiras e 100 chilenas, com idades a partir dos 60 anos e mais. A coleta de dados teve início em outubro de 2021 e, atualmente, conta com a participação de 20 idosas, todas brasileiras. Para a coleta de dados no Chile, a pesquisa contará com a colaboração dos professores Dr. Pablo Méndez-Bustos e Cristina Valenzuela Contreras, vinculados à Universidad Católica del Maule. O projeto de pesquisa também será submetido à apreciação do Comitê de Ética associado à referida Universidade chilena. Os critérios de inclusão para a participação na pesquisa são: ter 60 anos ou mais; ser de nacionalidade brasileira ou chilena; ser do sexo feminino; não apresentar comprometimento que inviabilize a comunicação; ter acesso à Internet; aceitar a participação livre e voluntária na pesquisa mediante ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os critérios de exclusão foram estabelecidos conforme a não adequação aos critérios elencados para a participação na pesquisa, bem como também são excluídos os participantes que não tiverem condições de responder os instrumentos ou que iniciarem o estudo e, por alguma razão, não responderem integralmente os instrumentos. Dado o contextopandêmico, a pesquisa está sendo realizada na modalidade remota/virtual, bem como os instrumentos de pesquisa estão 11 sendo divulgados por meio de aplicativo de mensagens instantâneas (Whats App), e de redes sociais (Instagram e Facebook). Os instrumentos de coleta de dados são: questionário sociodemográfico (contém perguntas sobre idade, escolaridade, nacionalidade, renda, profissão, entre outras, e caracterizará o perfil da amostra); Técnica de Associação Livre de Palavras – TALP (dispõe de três estímulos indutores: QV,COVID-19,velhice); e roteiro de entrevista estruturada (composta pelas seguintes perguntas: “O que você entende por qualidade de vida?”, “Você pode falar sobre o que você entende sobre a pandemia do covid-19?”, “A pandemia do covid-19 afetou a sua qualidade de vida? Se sim, de que forma?”, “O que você entende por velhice?”).Os dados coletados por meio do questionário sociodemográfico serão submetidos à análise estatística descritiva mediante o software IBM SPSS versão 26, de modo a identificar média, desvio-padrão e frequência. Já os dados obtidos por meio das entrevistas estruturadas e as palavras levantadas pela TALPserão alocados em documento modelo bloco de notas para análise textual no software Iramuteq versão 0.7 alpha 2, de modo a obter, dentre outras análises,a Classificação Hierárquica Descendente (CHD). Resultados: O presente estudo pretende apreender as representações sociais da QV e da pandemia da covid-19 entre idosas brasileiras e chilenas, de modo a auxiliar na compreensão deste fenômeno transculturalsob a ótica de quem o vivencia. Espera-se que os resultados deste estudo possam fornecer subsídios científicosque contribuam com o preenchimento de lacunas de dados sobre o tema, com a elaboração de políticas públicas e intervençõespsicossociais. Ressalta-se que a coleta de dados encontra-se em andamento, de forma a atingir o tamanho amostral pretendido e prosseguir com a análise do material obtido.