O objetivo da presente dissertação de mestrado foi de compreender as trajetórias de escolarização de pessoas cegas piauienses a partir de suas memórias sociais. Teve como objetivos específicos: Identificar nas memórias sociais das trajetórias de escolarização de pessoas cegas piauienses, situações consideradas negativas e positivas vivenciadas no espaço escolar; analisar a relação existente entre a busca por direitos sociais pelas pessoas cegas e ampliação progressiva de inserção delas no sistema formal de ensino piauiense; conhecer a partir das trajetórias escolares de pessoas cegas piauienses os diferentes elementos contribuintes e aspectos influenciadores para e inserção do mundo do trabalho. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva, com a metodologia da História Oral, pelo viés das narrativas de trajetórias de vida escolar. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí, sob o número do parecer: 4.021.118. Participaram da pesquisa 10 pessoas cegas que vivenciaram a escolarização básica no estado do Piauí, sendo seis do sexo feminino e quatro do sexo masculino, com idades entre 18 a 50 anos de idade. As entrevistas para narração dos depoimentos foram realizadas de maneira virtual por meio do aplicativo Google Meet. As análises foram feitas a partir da Análise de Conteúdo Temática e teoricamente a partir de pressupostos que embasam a Psicologia Escolar Crítica, com destaque à Psicologia Histórico-cultural e à Pedagogia Histórico-Crítica. A descrição empírica dos dados foi dividida em dois estudos, o primeiro intitulado – “Como foi ser aluno cego na escola?: Trajetórias da escolarização de piauienses cegos”, e o segundo estudo, intitulado: Escolarização de cegos piauienses: memórias sociais e lutas por direitos educacionais”. Entre os achados do primeiro estudo, destacam-se a dificuldade de mediação dos conhecimentos em sala de aula, sem o uso de instrumentos e meios adequados para a inclusão. Também foi identificada exclusão por parte dos colegas, exclusão essa que ora vinha de expressa de forma explícita (agressões físicas, agressões verbais, etc.), como de forma sutil (exclusão de trabalhos em grupo, evitação de diálogos, etc.). Já entre os aspectos positivos, destacam-se a importância da relação afetuosa e de convívio social com alguns colegas e trabalhadores da educação, que motivaram a permanência dessas pessoas na escola apesar das dificuldades enfrentadas. Vale destacar como importante fonte de apoio a Associação de Cegos do Piauí (ACEP), que foi elencada nos depoimentos enquanto uma instituição de apoio no processo de escolarização. Já o estudo 2, evidenciou as trajetórias de luta das pessoas cegas pelos direitos à escolarização, bem como do papel dessa instituição no processo de preparação para a vida social posterior à Educação Básica. O estudo revelou que nas trajetórias de escolarização das pessoas cegas no estado do Piauí, houve a necessidade de luta pelos direitos à escolarização ao longo do processo educacional da Educação Básica. Tais dificuldades encontram-se desde o direito negado de realização de matrículas, quanto no processo de ensino-aprendizagem na sala de aula com práticas excludentes. Tais lutas e dificuldades, serviram de motivação para a escolha profissional após a escolarização básica. Apontou-se, com os estudos, a necessidade de formação política das pessoas cegas do estado, bem como de suas famílias, a respeito dos seus direitos ligados à escolarização e cidadania, assim como a necessidade de uma maior comunicação entre as demandas educacionais das pessoas cegas, com o poder legislativo e as políticas públicas de formação de professores e de inclusão escolar.