A violência contra a mulher foi se constituindo um dispositivo complexo,
historicamente, marcado por processos de violência simbólica e modos de ser que
são produtos de milênios de dominação masculina, não sem movimentos de
resistência. Na contemporaneidade, – mesmo com o avanço do movimento
feminista, nos anos 50 e 60 do século XX, no que se refere à luta contra a
discriminação sexual e a naturalização da reprodução da vida, a violência de
gênero continua afetando a vida das mulheres, tanto que se tornou um grave
problema de saúde pública, haja vista as evidências de que é uma das principais
causas de mortalidade de mulheres em todo mundo. No Brasil, desde a década de
70, o feminino e os feminismos vêm sendo recriados, social, cultural e
historicamente e as mulheres vêm inventando outros modos de existir e resistir às
violências: “artes de fazer” no cotidiano e modos de pensar as relações corporais,
subjetivas, amorosas e sexuais, introduzindo outras maneiras de organizar o
espaço, produzir conhecimento e formular politicas públicas. Assim, a produção
das subjetividades masculinas e femininas e os modos de sujeição e resistência à
violência de gênero estão em circulação nos conjuntos sociais, entre instâncias
individuais e coletivas, agenciamento do desejo com diferentes entradas e
múltiplas saídas, sendo a violência física e psicológica as entradas que afetam,
diariamente, as mulheres em seus territórios existenciais e que, às vezes, encontra
na arte uma saída. Diante dessa problemática, nos perguntamos: como se
configuram os processos de subjetivação de mulheres acerca da produção dos
modos de sujeição e resistência em violência de gênero? Neste estudo, traçamos
um plano do comum entre o corpo em campo da mulher pesquisadora e as
performances das mulheres do movimento Slam das Minas Phb, compondo com
elas paisagens psicossociais da cidade de Parnaíba-PI. Slam das Minas é um
movimento feminista de poesia falada, em espaços públicos, sobre temas que
permeiam a vida da mulher. Nosso objetivo foi cartografar processos de
subjetivação de mulheres acerca da produção dos modos de sujeição e resistência
em violência de gênero. Os registros foram feitos através do diário cartográfico e
para produção das informações, utilizamos como método a cartografia, um modo
de fazer pesquisa-intervenção que se constitui como metodologia do encontro e
experimentação de territórios existenciais. Além da composição do movimento,
acompanhando as apresentações nas ruas e praças, realizamos quatro encontros
com as Minas, bem como encontros solicitados por elas ao decorrer da pesquisa.
Participaram deste estudo, 9 mulheres de 18 anos ou mais que já sofreram
violências por parte do parceiro(a) íntimo(a) e/ou assédio na rua pela condição de ser mulher. A análise, através das narrativas de si durante nossos encontros foram
feitas por meio de ferramentas-conceitos da esquizoanálise e de autoras
feministas contemporâneas. O resultado da pesquisa mapeia como as instituições
se apropriam do corpo feminino tentando subjugá-los e o feminismo surge como
uma teoria crítica e ético-política desestabilizando um estado de normalizações
impostas, bem como, esse corpo que é objetificado, sexualizado no cotidiano e
nas mídias é o mesmo corpo utópico que se produz em espaços heterotópicos
como forma de resistir às violações. O cuidado de si e a política de amizade
também está reterritoralizando essas mulheres e singularizando suas
subjetividades a partir da arte e poesia com suas escritas de si e estética da
existência que consiste na reinvenção de novos modos de existir através da
relação consigo mesmas e com os outros, pela vontade de mudar as coisas, de
criar novas relações mais favoráveis às mulheres e reconstruir suas histórias.