Vivemos em um permanente estado de exceção que caracteriza o capitalismo e a produção de subjetividade na contemporaneidade. Um dos efeitos disso é a produção de modos de vidas precárias,que estão na linha tênue do humano e inumano e, que acabam sendo reduzidas à sobrevivência. Neste sentido, algumas vidas são vivíveis e outras são matáveis, haja vista que o Estado opera uma necrobiopolítica de produção de zonas de morte de grupos minoritários para o exercício da governabilidade das vidas. Desde uma perspectiva ético-estético-poética e política de alteridade, enquanto existir vidas precárias, todas e todos nós somos convocados a responder sobre a vida. O não reconhecimento de humanidades é observado, sobretudo, nos dados de violência contra a população negra, indígenas, mulheres e crianças. Do banzo de negros traficados para serem escravizados no Brasil à morte por suicídio da juventude indígena nos últimos anos, a produção de subjetividade colonial-capitalística afeta as minorias com a desterritorialização dos modos de existência que resistem; essa desterritorialização afeta o direito à humanidade, à saúde, à vida. Nesse contexto, o suicídio tem sido cada vez mais uma expressão dos agenciamentos dos modos de vida precária e de produção de subjetividades capitalísticas, demarcado uma necrobiopolítica que compõe o controle da morte por suicídio. Assim, programas de prevenção ao suicídio, bem como ações de posvenção não estão, necessariamente, associadas à articulação de dispositivos de determinação social da saúde, mas ao controle das vidas de quem já tentou suicídio e das famílias que enfrentam perdas por suicídio. Diante desse quadro marcado pela produção de vidas precárias, necrobiopolítica e falta de articulação das Redes de Atenção à Saúde, como se constituem os modos de subjetivação, produção de vida e intervenção de profissionais junto a pessoas em situação de vulnerabilidade e violência autoprovocada e a familiares que vivenciam luto por suicídio? A partir dessa problematização, pretendemos realizar uma cartografia dos modos de subjetivação e intervenção de profissionais em contextos de vulnerabilidade e perda por suicídio, utilizando-se para análise conceitos apresentados por Rolnik, Butler, Pelbart e outros autores e autoras com os quais pensamos vida e morte por suicídio na contemporaneidade. Os objetivos desse projeto de pesquisa-intervenção são: a) Cartografar modos de subjetivação e intervenção de profissionais em contextos de vida precária e de perda por suicídio; b) Conhecer modos de intervenção de profissionais em contextos de vida precária e de perda por suicídio; c) Caracterizar modos de subjetivação de profissionais em contextos de vida precária e de perda por suicídio; e d) Analisar processos de subjetivação e intervenção de profissionais em contextos de vida precária e perda por suicídio. A cartografia será realizada em Parnaíba-PI, junto a profissionais que atuam com essa demanda nos territórios: psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, professores, agentes comunitários de saúde e técnicos de enfermagem. Nessa cartografia, além da participação observante euso de diário cartográfico, a produção das informações será realizada por meio de oficinas que auxiliem no processode intervenção e cuidados às pessoas e às famílias em situação de vulnerabilidade e perda por suicídio.