Nas últimas quatro décadas, no Brasil, tem se observado um aumento no número de grupos e comunidades indígenas que passaram a se autodeclarar e a reivindicar reconhecimento de sua condição étnica às autoridades oficiais, principalmente após a Constituição de 1988 e a Convenção 169, em um fenômeno, denominado pela antropologia, como emergência étnica. Trata-se de um processo sócio histórico, marcado, sobretudo, pela reelaboração política e cultural de grupos étnicos que foram submetidos a alguma relação de dominação ou considerados extintos em um dado contexto regional ou local. Envolve tanto a emergência de novas identidades como a reinvenção de etnias já reconhecidas. É nesse bojo que inúmeros grupos têm reaparecido no cenário nacional, tanto no contexto rural quanto urbano. No Piauí destacamos os remanescentes indígenas Tabajara, que residem em bairros periféricos da cidade de Piripiri, e que se organizam politicamente, através da Associação Itacoatiara de Remanescentes Indígenas de Piripiri. Portanto, no intuito de possibilitar um campo de aproximação da Psicologia com as discussões étnicos-raciais, partindo de reflexões do pensamento decolonial, o presente estudo busca analisar o processo de emergência étnica dos remanescentes indígenas Tabajara no Piauí. Quanto aos objetivos específicos: a) conhecer as condições sócio históricas que contribuíram para o processo de emergência étnica dos remanescentes
indígenas Tabajara no cenário piauiense; b) refletir sobre a organização política dos remanescentes indígenas Tabajara, a partir de suas lutas e resistências; e c) compreender os sentidos que os remanescentes indígenas Tabajara atribuem ao seu processo de emergência étnica. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que seguirá como delineamento metodológico a observação do cotidiano, uma forma de fazer pesquisa em Psicologia Social, advinda da perspectiva construcionista, que busca romper com a visão representacionista do conhecimento e da realidade. Pesquisar no cotidiano requer que o pesquisador partícipe das ações e interações em seu campo, dessa forma, o estudo ocorrerá na cidade de Piripiri (PI). Consideraremos como critérios de inclusão para a participação na pesquisa: a) ter idade igual ou superior a 18 anos; b) se autodeclarar como remanescente indígena Tabajara; c) participar da Associação Itacoatiara de Remanescentes Indígenas de Piripiri; d) concordar em participar da pesquisa e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A amostra inicial contará com 15 participantes, no entanto não se trata de uma quantidade fechada, uma vez que utilizaremos da técnica metodológica Snowball, conhecida no Brasil por “amostragem em Bola de Neve”. Como recursos metodológicos, utilizaremos conversas no cotidiano, diários de campo e grupo de discussão sobre o seu processo de afirmação étnica no Piauí, sobre sua organização política, suas lutas e resistências, os sentidos atribuídos ao sentimento de pertença e de coletividade, sobre seus aspectos culturais e geracionais e dentre outros. Todo o material a ser produzido será registrado em diários de campo e em gravações (que serão transcritas), juntos irão compor o corpus de análise. Para análise dos dados das conversas no cotidiano e dos grupos de discussões iremos utilizar do mapa de associação de ideias, que consiste em um instrumento de análise que busca possibilitar uma aproximação do pesquisador com os materiais registrados a fim de auxiliar na organização das práticas discursivas, assim buscaremos, levar em consideração o local e o contexto sócio histórico, fluxo de associação de ideias, os repertórios linguísticos, os enunciados, os jogos de poder, os posicionamentos e a produção dos sentidos. O estudo seguirá todos as normas éticas estabelecidas pela Resolução n. 466/2012 e Resolução n. 510/2016. Por fim, o projeto será submetido à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí.