Este trabalho tem como tese demonstrar o papel político e social da religião como esfera
coformadora do cidadão nos limites da razão pública a partir de John Rawls. A hipótese que
pressupõe a pesquisa é que formar o cidadão significa desenvolver a capacidade do senso de
justiça e de cumprir o dever de civilidade conforme princípios políticos de uma sociedade
democrática. A tese é que a religião se torna coformadora para a cidadania numa sociedade
democrática quando endossa princípios políticos da razão pública ao reconhecer e respeitar o
pluralismo razoável em sua participação ativa no debate político; que implica na construção de
valores com o objetivo de promover a razoabilidade necessária para o senso de justiça no
cumprimento do dever de civilidade. Duas categorias são importantes na estrutura desta tese: a
ideia de razão pública em sua aplicabilidade a instituições fundamentais da estrutura básica e o
ideal de razão pública que se manifesta numa cultura política pública. Na primeira, o cidadão
faz parte do corpo político e participa publicamente na construção de princípios políticos de
justiça e de leis democráticas que possuem em si caráter pedagógico de formação da cidadania,
além de considerar que nesta o cidadão pode participar diretamente do fórum público de debate
como autoridade pública ou como candidato a cargos públicos. No ideal de razão pública além
da expressão das autoridades e dos candidatos a cargos públicos, os cidadãos comuns encontram
seu espaço de participação no debate político. Nossa proposta pretende avaliar a forma de
interação entre a religião e a estrutura política de uma sociedade democrática. Essa avaliação
está focada na questão sobre a formação dos cidadãos capazes de participar da cultura política
pública reconhecendo e promovendo o pluralismo razoável. Duas questões surgem como
problemas: é possível a contribuição da religião na construção das condições sociais para
cidadãos assumirem o papel de representação política em instituições fundamentais da estrutura
básica? Qual o papel da religião em relação aos valores dos princípios políticos que expressam
a primazia do justo sobre o bem que identifica o agente cidadão? Responder a essas questões é
a tarefa de nossa pesquisa que pretende uma reconfiguração temática a partir da filosofia
política de Rawls. A estratégia para que isso aconteça é estabelecer critérios de avaliação a
partir da análise do artigo “A razão pública revisitada” (1997) em sua relação com as demais
conferências que compõe o Liberalismo político (1993). Além da obra de Rawls será
investigada algumas críticas de liberais e de comunitaristas. A teoria da justificação de Rainer
Forst terá um papel também estratégico para o nosso debate, no que diz respeito a uma reflexão
sobre o conceito de tolerância. A tese se configura como trabalho de reconstrução temática que
parte de Rawls, mas que vai além do autor para demonstrar o papel político e social da religião
como coformadora do cidadão, e com isso discutir as consequências numa sociedade
democrática quando a religião forma seus indivíduos fechados em suas próprias doutrinas
abrangentes como artificio de poder e assim de controle da esfera pública. Sem os limites da
razão pública não há um mínimo comum para que as religiões de forma razoável possam
contribuir com a formação dos cidadãos democráticos que reconhecem o pluralismo e respeitam
o dever de civilidade nos limites estritamente político.