Introdução: O desrespeito e abuso no parto (DA) constitui uma grave violação dos direitos humanos, afetando muitas mulheres nas instituições de saúde em todo o mundo. Mulheres expostas ao DA podem apresentar maiores probabilidades de problemas de saúde mental, como a depressão pós-parto (DPP). Entretanto, há escassez de estudos sobre a temática. Objetivo: Analisar a relação entre desrespeito e abuso durante o parto e depressão pós-parto. Métodos: Trata-se de estudo transversal, realizado com mulheres residentes na zona rural e urbana de Caxias, Maranhão, e que receberam atendimento durante o trabalho de parto e parto na maternidade do município. As variáveis independentes foram características sociodemográficas, antecedente de saúde mental, aspectos comportamentais relacionados à saúde no período gestacional, características obstétricas e autopercepção do DA (abuso físico; abuso verbal; abuso sexual; discriminação; não cumprimento de normas profissionais recomendadas; relações inadequadas entre mulheres e profissionais de saúde; e condições do sistema de saúde e restrições). Considerou-se a DPP como variável dependente, sendo avaliada pela Escala de Depressão Pós-Natal de Edimburgo (EPDS). O teste do qui-quadrado de Pearson foi empregado para avaliar a associação entre o desfecho (DPP) e as variáveis independentes. Além disso, utilizou-se a regressão logística múltipla, com cálculo de odds ratio ajustada (ORaj) e intervalos de confiança de 95% (IC95%). O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí. Resultados: Foram entrevistadas 190 mulheres. A DPP apresentou prevalência de 16,6%. A ocorrência de pelo menos um tipo de DA foi de 97,4%, com predomínio das condições do sistema de saúde e restrições (94,7%). Mais da metade das mulheres (66,3%), foram submetidas simultaneamente a dois tipos de DA, enquanto três ou mais formas foram relatadas por aproximadamente um quarto das entrevistadas (22,6%). Sofrer duas formas de DA (ORaj=3,01; IC95% 1,08-8,33) e três ou mais tipos (ORaj=3,41; IC95% 1,68-24,40) aumentaram entre 3 e 3,4 a chance da ocorrência de DPP, respectivamente. Conclusões: A experiência de dois ou três ou mais tipos de DA aumentou em aproximadamente 3 vezes a chance de desenvolver DPP, evidenciando associação significativa entre DA e DPP. Nesse sentido, é necessário a elaboração de estratégias locais para melhorar a assistência durante o parto, para garantir atendimento digno e respeitoso às mulheres e reduzir os riscos de DPP.