Introdução: Em janeiro de 2020, o surto pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), foi declarado como uma emergência de importância internacional pela Organização Mundial de Saúde. Diante do aumento de casos e mortes provocados pela doença, a medida preventiva melhor aceita por todos foi o isolamento social como forma eficaz de achatamento da curva epidêmica. Contudo, tais medidas, associadas aos sentimentos e emoções negativas provenientes da pandemia da Covid-19, vêm tornando a população mais vulnerável a problemas relacionados à saúde mental. Além disso, mudanças comportamentais, como redução da atividade física e aumento do consumo de alimentos não saudáveis, também têm sido observadas na população, configurando uma situação ainda mais preocupante, visto que a literatura aponta tais comportamentos como determinantes para alterações da saúde mental. Objetivos: Determinar a prevalência de transtornos mentais comuns e verificar associação com o consumo alimentar e fatores associados em adultos e idosos de Teresina-PI. Métodos: Trata-se de um estudo transversal de base populacional, domiciliar, de caráter quantitativo, analítico, integrando uma pesquisa mais ampla, conduzida por meio de um inquérito sorológico em todo o Piauí, denominada EpiCovid. O estudo foi realizado no município de Teresina (PI) e incluiu pessoas a partir dos 18 anos de idade. Assim, foram investigadas as variáveis: sociodemográficas e socioeconômicas, situação de saúde, transtornos mentais comuns, consumo alimentar e estilo de vida. As entrevistas ocorreram durante as visitas aos domicílios previamente sorteados, por meio de um formulário digital padronizado, usando o programa EpiCollect/RedCap, com questões específicas para cada variável da pesquisa. Os entrevistadores foram profissionais de saúde, alunos de graduação e pós-graduação da área de saúde previamente treinados. Uma vez de posse dos dados da coleta, a análise estatística foi realizada por meio do programa STATA (versão 14.0). Utilizou-se o teste do qui-quadrado de Pearson para avaliar a associação entre as variáveis independentes e presença de TMC. Calculou-se a estimativa de prevalência da TMC e a razão de prevalência (RP), com intervalo de confiança de 95% (IC 95%), estimado pela regressão de Poisson. Além disso, foram estimadas as RP brutas e ajustadas por faixa etária, sexo, estado civil, renda e presença de sequelas da Covid-19. O nível de significância adotado para os testes foi de p < 0,05. Resultados: A prevalência de TMC foi de 31,3%. Ademais, os achados deste estudo apontam para características próprias da população estudada, as quais contribuíram para aumentar a prevalência de TMC, como ser do sexo feminino (RP: 3,77; IC: 1,40-10,12) e consumir bebidas alcoólica 5 vezes ou mais por semana (RP: 4,54; IC: 1,16-17,8), enquanto aqueles que não tiveram Covid-19 - com limitações das atividades diárias (RP: 0,50; IC: 0,30-0,84) e apresentaram consumo alimentar mais saudável como maior consumo de FVL (RP: 0,35; IC: 0,14-0,86; RP: 0,55; IC: 0,26-1,16), leites e derivados (RP: 0,61; IC: 0,40-0,91), ovos (RP: 0,52; IC: 0,28-0,98) e carnes brancas (RP: 0,38; IC: 0,21-0,71; RP: 0,44; IC: 0,22-0,90) tiveram efeito protetor para TMC. Conclusão: Em virtude desses fatos, mais pesquisas são necessárias para explicar os mecanismos plausíveis, bem como as consequências a longo prazo, desse impacto na relação entre a saúde mental e o declínio da qualidade de vida decorrentes da pandemia da Covid-19.