O universo da motivação evidencia o indivíduo em interação ativa com o ambiente e configura-se como uma ferramenta para a compreensão das diferenças individuais no seguimento ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). A utilização da Teoria da Autodeterminação (TAD) propicia o estudo do comportamento humano com foco na distinção entre motivação autônoma e motivação controlada, assemelhando-se ao universo da adesão terapêutica da HAS à medida que esse processo é fortemente influenciado pelo meio e suas relações sociais. Assim, objetivou-se compreender a motivação ao tratamento da hipertensão arterial sistêmica de pessoas atendidas na Atenção Primária à Saúde. Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa com utilização de grupos focais, realizado na cidade de Teresina-PI. Ao todo foram incluídos 52 hipertensos divididos em oito grupos focais com média de seis participantes em cada um e duração média de uma hora e meia, cada grupo, durante os meses de dezembro de 2019 a fevereiro de 2020. Os dados foram analisados por meio do software IRAMUTEQ, com utilização da Classificação Hierárquica Descendente (CHD), Análise Fatorial de Correspondência (AFC), análise de similitude e nuvem de palavras. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí sob parecer de número 3.662.514. O conteúdo resultante da análise realizada pelo software encontrou 52 textos, com 266 segmentos de textos, sendo 212 (79,70%) deles analisáveis e retidos na CHD. A CHD dividiu o corpus em 5 classes, nomeadas de acordo com características das palavras reunidas e aspectos relacionados ao tratamento da HAS. Houve uma predominância de motivação ao tratamento da HAS do tipo extrínseco, com forte influência dos serviços de saúde, na figura do médico, assim como das complicações decorrentes da não adesão terapêutica, pontos de maior correlação, conforme evidenciado na AFC. O tratamento medicamentoso foi considerado o ponto central, representado pela palavra “remédio”, conforme evidenciado também pela análise de similitude e nuvem de palavras, enquanto que o tratamento não-medicamentoso, representado pela mudança de estilo de vida, apresentou relatos de todos os tipos de motivação, desde sujeitos totalmente desmotivados, até aqueles com alto grau de interesse e satisfação inerente. Os resultados desta pesquisa demonstram que a motivação ao tratamento da HAS no contexto da APS é predominantemente do tipo extrínseca, caracterizando um processo regulatório com pouca ou nenhuma internalização de valores essencial para o seguimento terapêutico, necessitando de estratégias de incentivo ao fortalecimento da autonomia do paciente frente ao seu processo de cuidar, ao reconhecimento de competência e à consolidação de um suporte social eficaz.