Introdução: O suicídio é um problema de saúde pública em âmbito mundial, com taxa ascendente de crescimento entre adolescentes e jovens, constituindo-se como a segunda causa de morte em adolescentes do sexo feminino e a terceira nos do sexo masculino. Objetivo: Analisar o comportamento suicida em adolescentes escolares no período pandêmico (COVID-19) e suas estratégias de enfrentamento. Métodos: Estudo de abordagem mista, baseado em triangulação metodológica sequencial. Na etapa quantitativa, foi realizado um estudo transversal com 388 adolescentes escolares matriculados no Ensino Médio de Teresina – PI, selecionados por amostragem probabilística estratificada proporcional. Na etapa qualitativa, foram realizadas entrevistas clínicas de orientação psicanalítica com seis escolares que tentaram suicídio, pelo menos, uma vez de março de 2020 a dezembro de 2022. Empregou-se o teste de qui-quadrado de Person e o Teste Exato de Fisher; a força de associação foi medida pela Odds Ratio (OR bruta), com respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%) e valor de p. Os dados qualitativos foram interpretados com base na análise psicanalítica de discurso. Resultados: A maioria dos adolescentes tinha 17 anos de idade (36,1%), 53,6% do sexo feminino e 46,4% do sexo masculino. A maioria dos escolares que responderam ao questionário possuía cor/raça preta/parda (63,2%). E grande parte destes estava regularmente matriculada na 3ª série do Ensino Médio (37,9%). O comportamento suicida (ideação, planejamento e/ou tentativa) foi significativamente associado (p<0,05) ao sexo; luta corporal; luta corporal na escola, número de tentativas de suicídio, lesão após a tentativa e tristeza em excesso, violência no relacionamento e abuso sexual. Adolescentes do sexo feminino apresentaram 3,29 vezes maiores chances de apresentarem ideação suicida (OR=3,29; IC95% 2,09-5,20), 2,99 vezes maiores chances de planejar como porão fim à própria vida (OR=2,99; IC95% 1,84-4,88) e 2,80 vezes maiores chances de tentarem suicídio (OR=2,80; IC95% 1,60-4,90). Aqueles que se sentiram excessivamente tristes ou sem esperança durante a pandemia apresentaram 4,75 vezes maiores chances de terem ideação suicida (OR=4,75; IC95% 2,88-7,84), 7,86 vezes maiores chances de planejarem tirar a vida (OD=7,86, IC95% 4,20-14,71) e 4,72 vezes maiores chances de tentarem tirar a vida (OR=4,72; IC95% 2,45-9,11). Na etapa qualitativa, foram identificadas estratégias de enfrentamento que jovens que já tentaram tirar a vida utilizam para lidar com o mal-estar. As estratégias giraram em torno de espaços protegidos de fala, mostrando que é imprescindível que haja pessoas/espaços para que esses jovens consigam ser escutados. Foram destacados, no estudo, os amigos, as famílias, os profissionais da saúde mental (psicólogos, psicanalistas, médicos, etc.) e, especialmente, a escola. Conclusão: Os objetivos do estudo foram alcançados. Por se tratar de um tema bastante pesquisado, o estudo traz contribuições significativas para a temática do suicídio em adolescentes. Além disso, ele pode proporcionar perspectivas novas a partir do entrelace entre a saúde coletiva e a psicanálise.