PLANTAS SILVESTRES E PRÁTICAS ALIMENTARES POPULARES EM ÁREAS DE CARRASCO, SEMIÁRIDO DP NORDESTE DO BRASIL
Etnobiologia, conhecimento botânico tradicional, plantas alimentícias
As plantas alimentícias silvestres são consideradas importantes para as políticas que visam à segurança alimentar e para os modelos alternativos de consumo. Esta pesquisa objetivou conhecer as plantas do carrasco utilizadas na alimentação e resgatar as práticas alimentares populares nas comunidades Bebedouro e Oiticica, município de Buriti dos Montes e Itapecuru e Pinga, em Cocal, Piauí, ao tempo em que se propôs proceder à caracterização química e da atividade antioxidante de espécies dessa flora. O trabalho etnobotânico foi realizado a partir de 93 entrevistas semiestruturadas e permitiu identificar 79 espécies botânicas de uso alimentar. A caracterização química e a atividade antioxidante in vitro revelaram que macambira (Bromelia laciniosa Mart. ex Schult.), jatobá (Hymenaea martiana Hayne), taturubá (Pouteria macrophylla (Eyma) Aubl.) e jacarandá (Swartzia flamingi var. psilonema (Harms) Cor.) são ricas em carboidratos, possibilitando sua utilização para complementação calórica diária. As espécies H. marciana, P. macrophylla e Randia armata (Sw.) DC. (taturapé) destacaram-se em compostos bioativos e em atividade antioxidante in vitro. Porém, mesmo as espécies que apresentaram menores teores desses compostos, B. laciniosa, Melocactus zehntneri (Britton & Rose) Luetzelb. (coroa-de-frade), Pilosocereus gounellei (xiquexique) Juss. e S. flaemingi (jacarandá), foram consideradas plantas alimetícias importantes por estarem disponíveis em períodos de escassez de alimentos, sendo muitas vezes, as únicas fontes dessas substâncias acessíveis para comunidades do semiárido do Nordeste do Brasil. Apenas H. martiana e P. macrophylla destacaram-se em capacidade para reduzir os radicais livres ABTS•+ e DPPH·. A revisão de literatura sobre a ameixa-do-mato (Ximenia americana L.) evidenciou principalmente o uso alimentício da polpa do fruto e do óleo da semente. Os relatos publicados deram conta do progressivo distanciamento das populações dessa espécie das áreas habitadas e fizeram referência ao uso desordenado do recurso como causa provável. Tal distanciamento evidencia o risco de extinção da espécie e da perda de saberes tradicionais. Ressalta-se que os resultados ora apresentados oferecem importante contribuição para o conhecimento das potencialidades alimentícias de espécies do semiárido brasileiro; mostra que essas poderiam ser inseridas nos programas regionais que visam à segurança alimentar e nutricional e sugere que novas investigações sejam realizadas a fim de possibilitar o aproveitamento industrial dessas espécies permitindo agregar valor aos produtos locais.