A desertificação é um dos maiores problemas ambientais do mundo na atualidade. Por esta razão, estudou-se a história da desertificação no município de Gilbués, localizado no sudoeste do estado do Piauí, Brasil, na maior área degradada do país e de transição entre a caatinga e o cerrado. O agravamento da degradação ambiental se acentuou nos anos de 1940 e 1950, embora existam registros de fragilidades ambientais desde a segunda metade do século XIX, quando a região era praticamente desabitada. Sendo assim, questiona-se: 1) como se deu a origem da degradação da terra e em que medida os impactos econômicos, sociais e ambientais conduziram ao processo de desertificação? 2) quais as ações do poder público para mitigar os efeitos desse processo e as alternativas tecnológicas geradas? 3) qual a percepção da população frente ao problema em função do longo período de convivência com a desertificação? A pesquisa objetivou analisar como as interações entre sociedade e natureza, ao longo do tempo, conduziram ao agravamento da degradação ambiental. Especificamente, demonstrou que esse fenômeno está associado a fatores naturais, agravados por ações antrópicas; verificou que foram geradas políticas públicas e alternativas tecnológicas capazes de reverter o problema; e identificou marcas perceptíveis na memória da população, especialmente dos agricultores familiares, os mais afetados pela desertificação. Do ponto de vista do método, o trabalho buscou demonstrar as possibilidades de se estudar o processo de desertificação a partir da teoria e da metodologia da história ambiental, o que pressupõe três níveis de pesquisa: 1) investigação dos recursos naturais existentes na área de estudo; 2) analise das relações socioeconômicas com o ambiente ao longo do tempo; 3) compreensão das manifestações culturais resultantes das interações da sociedade com a natureza. Utilizou-se também a história oral para realizar entrevistas com a finalidade de identificar as diversas percepções sobre a desertificação, a partir da memória dos pequenos produtores rurais. Entrevistou-se agricultores familiares de oito (08) comunidades localizadas no centro sul de Gilbués, a área mais degradada do município. Os resultados revelaram que a área de estudo constitui um ambiente complexo onde coexistem uma agricultura empresarial, no norte do município, e a agricultura de subsistência, no centro sul, onde estão as áreas mais atingidas pela degradação ambiental, sobretudo aquelas situadas na microbacia do riacho Sucuruiú, em que predomina a pequena produção agropecuária, com destaque para o plantio de milho e criação de gado bovino. Constatou-se que uma parte dos produtores utiliza técnicas como curva de nível, terraço e pequenas barragens para recuperar o solo degradado e produzir em melhores condições. Identificou-se na memória dos agricultores familiares fortes marcas advindas de suas percepções da paisagem degradada. Concluiu-se que, de fato, existe uma fragilidade do ambiente natural e que a degradação ambiental foi agravada por ações antrópicas sem os devidos cuidados preservacionistas. Entretanto, evidenciou-se que algumas políticas públicas, embora insuficientes, permitiram ao pequeno produtor o acesso a assistência técnica e tecnologias alternativas capazes de mitigar a degradação e de lhes garantir uma melhor condição de vida. Por fim, verificou-se que a memória dos trabalhadores foi fortemente marcada pela convivência com a desertificação, principal obstáculo das antigas e atuais gerações na luta pela sobrevivência.
Link da Sala: https://conferenciaweb.rnp.br/webconf/jaira-maria-alcobaca-gomes