Diante do acelerado processo de desordenadas alterações do meio natural ao longo do tempo, é importante a análise dos saberes femininos como contribuição fundamental na conservação da biodiversidade, bem como para o reconhecimento do empoderamento das mulheres nas comunidades rurais. Este estudo, por intermédio da abordagem etnobiológica, objetivou verificar os fatores que influenciam o empoderamento das mulheres campesinas das comunidades rurais denominadas Vamos Vendo, Cigalha e Cachoeira, do entorno do Parque Nacional de Sete Cidades, a partir do levantamento da flora silvestre utilizada, bem como da análise das percepções ambientais ocorridas pelas mulheres destas comunidades. A pesquisa foi desenvolvida entre os anos 2016 e 2019, com dois grupos de mulheres sendo 40 moradoras e sete guias que trabalham no PNSC. Os procedimentos metodológicos em campo foram realizados por meio das técnicas de Rapport, entrevistas semiestruturadas seccionada em quatro partes, contendo levantamento de informações socioeconômicas, culturais, ambientais e etnobiológicas. Utilizou-se, ainda, lista livre, turnê-guiada, oficinas participativas e coletas botânicas. Todas as informações foram submetidas à análise qualitativa e quantitativa com o uso de estatística descritiva, dados oficiais de precipitação e temperatura, aplicação de índices de diversidade e análises dos dados referentes à percepção ambiental. Constatou-se que as mulheres das comunidades rurais estudadas vivem em condições socioeconômicas e ambientais precárias. No entanto, apesar da ausência de estruturas que viabilizem o empoderamento, elas desenvolvem práticas e estratégias com base em saberes tradicionais que lhes possibilitam contornar dificuldades que viabilizam um empoderamento individual e coletivo. Os saberes referentes às plantas estão centrados nas mulheres com maior tempo de moradia nas comunidades e nas mais idosas. As percepções das mulheres sobre mudanças ambientais demonstram que os fatores escolaridade e idade são determinantes na percepção de mudanças no ambiente. As percepções sobre alterações no clima apontam para um alinhamento com as informações oficiais, com resultados significativos em tendências climáticas locais. Das plantas levantadas pelas moradoras e guias, identificaram-se 70 espécies, pertencentes a 24 famílias e 62 gêneros distribuídas em sete categorias de uso. A família Fabaceae foi a mais representativa em número de espécies. As espécies que apresentaram maiores frequências foram a Ameixa (Ximenia americana L.) e o Caju (Anacardium occidentale L.). As de maiores ranques foram as espécies Sucupira (Bowdichia virgilioides) e Jenipapo (Genipa americana). Verificou-se um elevado índice de similaridade (SJ=0,67) entre os dois grupos. Entre as moradoras foram levantadas 66 espécies, pertencentes a 24 famílias, 62 gêneros em três domínios culturais: saúde, nutricional e madeireira. Para os três domínio verificou-se a existência de consenso cultural e baixa similaridade entre as espécies citadas. O etnoconhecimento das mulheres sobre a vegetação silvestre e seus saberes ambientais reafirma sua importância no meio rural e na elaboração de políticas públicas destinadas à conservação da biodiversidade a partir do empoderamento feminino.