ETNOBOTÂNICA NA COMUNIDADE RURAL SÍTIO VELHO EM ASSUNÇÃO DO PIAUÍ, BRASIL: IDENTIFICAÇÃO E TRANSMISSÃO DO SABER TRADICIONAL
Caatinga, contemporaneidade,
A Etnobotânica é uma ciência que por tratar das relações homem x natureza, tem
despertado muito o interesse de diversos pesquisadores. A comunidade Sítio Velho (05o
20’S e 41o cerrado/caatinga hiperxerófila, com predomínio de caatinga, rica em diversidade
biológica com várias espécies endêmicas e que requer estudos direcionados à etnoconservação. Conhecer a utilização da flora no intuito de compreender a relação
entre os moradores da comunidade rural Sítio Velho em Assunção do PI, com o meio
ambiente e traçar o panorama de uso botânico e os fatores que influenciam esses usos,
foram os objetivos buscados na realização desta pesquisa. A comunidade possui uma
extensão de aproximadamente 848 ha, situada nos limites dos estados do Piauí e Ceará,
contando atualmente com 430 pessoas, distribuídas em 97 famílias, que desenvolvem
em sua maioria a agricultura de subsistência. A metodologia definiu-se em etapas de
observação e reconhecimento das comunidades, aplicação de formulários
semiestruturados com 50 % da população do gênero masculino e feminino, das faixas
etárias: idosa (6 homens e 6 mulheres) e jovem (10 homens e 17 mulheres) e 37,5%
com a faixa etária adulta (25 homens e 29 mulheres), correspondendo a 41 homens e
52 mulheres, com idades entre 18 e 89 anos. Os dados quantitativos foram definidos
através dos cálculos do Valor de Uso; Fator de Consenso dos Informantes; Índice de
Importância Relativa e Curva de Rarefação entre as espécies da Família Asteraceae.
Quanto à escolaridade dos moradores maiores de idade (247 pessoas) verificou-se que
42,9% são alfabetizadas e 57,1% não alfabetizadas. Em 94,5% das famílias há uma
complementação de benefícios concedidos pelo governo, sendo 80% bolsa família, 10%
aposentadoria, 6% bolsa jovem e bolsa safra atingem um percentual de 4%. A extensão
salarial corresponde a 60% meio salário e 28,5% um salário mínimo, 9,5% não dispõe
de nenhuma renda fixa e 2% acima de três salários mínimos. O tempo de moradia de
97,3% da população entrevistada corresponde à idade de cada um. O acervo botânico
coletado encontra-se depositado no Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade
Federal do Piauí (UFPI). Para definição dos informantes-chaves (pessoas de notório
saber) foi definido técnica de amostragem aleatória, seguida de “bola-de-neve”.
Catalogou-se 136 espécies, distribuídas em 69 famílias e as mais representativas em
número de espécies foram: Leguminosae (27), Euphorbiaceae/Lamiaceae (13),
Asteraceae (12) e Araceae /Poaceae (10). Identificaram-se 12 categorias de uso:
medicinal, alimentação humana e animal, construção, produção de energia, manufatura,
melífera, místico-religiosa, ornamental, veterinária, ecológica e cosmético, sendo que as
mais relevantes em citações foram medicinal, alimentação animal, alimentação humana
e produção energética. O maior Valor de Uso para as espécies medicinais foram: Aloe
vera (L.) Burm. f., Leonotis nepetifolia L. e Momordica charantia L. (VU=4,0); e as
espécies que obtiveram maior Importância Relativa foram Chenopodium ambrosioides
L. (IR=2), seguida por Sida acuta Burm. f. (IR=1,71). Na categoria construção a
espécie mameleiro (Croton blanchetianus Baill) da família Euphorbiaceae, foi a espécie
mais versátil. Entre as espécies da família Asteraceae a que se sobressaiu com maior valor de
uso (VU) foi Bidens pilosa L. (0,33). O cálculo de rarefação das espécies desta família
comprovaram que o maior conhecimento botânico está contido na faixa etária adulta. Portanto,
as heranças das práticas tradicionais, principalmente no que se refere ao uso de
remédios e construções, oriundos de plantas, ainda são bastante expandidas pela
geração idosa e adulta dentro da comunidade.
Palavras-chave: Caatinga, contemporaneidade, ruralidade, saber tradicional.
15’W) apresenta transições vegetacionais entre floresta subcaducifólia/