Anacardium occidentale L., com hipocarpo e fruto de tamanho reduzido, ocorrente na restinga e cerrado, e popularmente conhecido como cajuizeiros, têm importância ecológica e socioeconômica para várias comunidades do Nordeste brasileiro. Assim, objetivou-se identificar os usos e o manejo do cajuí, ecótipo restinga, em comunidades no Maranhão e no Piauí, bem como caracterizar a variabilidade morfométrica e molecular dos ecótipos restinga (Piauí: nos municípios de Parnaíba e Cajueiro da Praia e Maranhão: na Ilha das Canárias em Araioses) e cerrado (Campo Maior, José de Freitas e no Parque Nacional de Sete Cidades). Para avaliar os dados etnobiológicos foram empregados formulários semiestruturados a 88 extrativistas das comunidades Canárias no Maranhão e Labino e Barrinha no Piaui, empregando o valor de diversidade de uso (UDs), valor para a parte da planta (PPV) e análise de regressão linear multivariada. Também foi possível elaborar uma cartilha com os usos do cajuí. Para caracterizar e distinguir os dois ecótipos de A. occidentale das seis populações estudadas, com base no estudo de populações naturais e quantificar sua variabilidade morfológica em seis áreas, foram empregados 51 descritores fenotípicos. Amostras de material vegetativo (ramos com folhas) e férteis (com flores, frutos e hipocarpo) de 30 indivíduos de cada população de cajuí (A. occidentale) foram coletadas considerando sua distribuição, sendo três populações do ambiente costeiro e três do cerrado. A variabilidade genética foi analisada pelo método de genotipagem utilizando 115 indivíduos das seis populações. Foram utilizados seis primers microssatélites, os dados foram avaliados usando os programas Micro-Checker, GenAlEx, GDA, Alerquin para realização da análise de variância molecular (AMOVA), Fstat, e Structure. A maioria (73%) dos entrevistados são mulheres. O cajuí é empregadocomo alimentício (UDs: 0,87), forrageiro (0,08), medicinal (0,03) e combustível (0,02). O hipocarpo tem maior diversidade de uso (PPV: 0,76). Observou-se que em Canárias existe a tendência dos que possuem um maior tempo de moradia serem detentores de maior número de usos (p: 0,041). Os cajuís são coletados manualmente principalmente em grupo, na mata (50%) e próximos das residências (50%) durante o período de safra. As análises morfométricas evidenciaram (PCA) separação de dois grupos, ecótipo restiga e cerrado, embora tenha havido superposição. Quanto aos caracteres da folha, a lâmina foliar é mais longa e mais larga no ecótipo cerrado. A validação cruzada (KNN) usando a classificação de ecótipos revelou que a maioria dos indivíduos podem ser corretamente alocados em sua categoria. As análises moleculares mostraram diferenciação em dois grupos, ecótipo restinga e cerrado usando o Structure. Os valores médios de Heterozigosidade esperada (He) foram maiores para o ecótipo cerrado (He= 0,66), exibindo maior diversidade genética em relação ao ecótipo restinga. Os valores do coeficiente de endogamia (FIS) foram positivos, indicando excesso de indivíduos homozigotos, e consequentemente desvios do equilíbrio de Hardy-Weinberg foram observados em alguns marcadores. Dados da análise de variância molecular (AMOVA) mostraram que 74,15% da variabilidade genética encontra-se dentro das populações e 20,99% de variância está entre os grupos evidenciados pelas diferenças genética entre elas. Assim, estimativas usando técnicas moleculares permitiram diferenciar geneticamente as populações dos ecótipos restinga e cerrado; aliado a isso a heterogeneidade fenotípica observada usando os métodos morfométricos, possivelmente sejam reflexos ecológicos, ambientais e do fluxo gênico. Nesse cenário, o cajuizeiro tem grande importância socioeconômica para as comunidades estudadas e permitem a continuidade da identidade cultural associada à sociobiodiversidade.