As feiras livres são espaços que asseguram a resiliência e manutenção dos saberes empíricos sobre as espécies úteis. Situadas nas cidades, permeiam trocas econômicas, ecológicas e culturais, por meio da comercialização de diversos produtos e serviços, incluindo espécies vegetais para uso terapêutico. A comercialização de plantas medicinais nos centros urbanos possui características e dinâmicas próprias. Assim, objetivou-se conhecer as plantas medicinais comercializadas, indicações de uso e o perfil sociodemográfico dos vendedores que trabalham na feira de Oeiras, Piauí. Foram feitas entrevistas com aplicação de formulários semiestruturados à 7 signatários. Procedeu-se ao registro da fala, observações da estrutura física e condições sanitárias do espaço da feira. Calculou-se os índices de similaridade, diversidade de Shannon-Wiener e de riqueza de espécies. Para o Consenso do Informante, foi calculado o Nível de Fidelidade. A totalidade dos entrevistados (100%) são residentes em Oeiras e pertencem ao gênero masculino. O tempo em que trabalham na atividade variou de 25 a 60 anos. São predominantemente de origem rural (57,1%). Identificou-se 59 espécies vegetais, pertencentes a 34 famílias, com maior representatividade para Fabaceae (15 ssp.), com predomínio das espécies nativas. Os órgãos vegetais mais usados foram folhas (31,36%) e caules (16,56%) e a forma de preparo predominante foi o chá (decocção e infusão, 27,17% e 18,47%, respectivamente). Ximenia americana L. apresentou maior concordância de uso e Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm. foi a espécie mais versátil. O uso de espécies medicinais foi mencionado como eficiente para o tratamento de doenças físicas e/ou espirituais e as citações mais usuais foram para o tratamento de sinais e sintomas de transtornos dos sistemas respiratório e geniturinário. Considerando os sistemas corporais, houve concordância entre os vendedores no uso das plantas indicadas para o tratamento de doenças da pele e estruturas relacionadas. Além do uso terapêutico, 13,8% espécies foram referenciadas para uso mágico-religioso. A atividade na feira foi mencionada como fonte de renda principal (71,5%) e o comércio de plantas é feito concomitantemente com a venda de outros produtos por todos os entrevistados. O repasse do conhecimento é feito por transmissão horizontal, vertical e oblíqua. A atividade de comercialização envolve diversas pessoas com funções bem definidas e no local convergem plantas para uso medicinal adquiridas de diferentes municípios. Verificou-se que os feirantes são reconhecidos como especialistas locais e a feira livre é um importante espaço de (re)construção e difusão da cultura local, acerca do uso de etnoespécies. Além da importância econômica para os vendedores, a venda de plantas medicinais apresenta relevante contribuição sociobioambiental para o município. A inclusão da feira em políticas públicas mostrou-se como necessária para o estabelecimento de normatização e orientações específicas aos feirantes para garantir a permanência da venda de plantas como atividade econômica e o uso seguro e sustentável dos recursos da flora.