A arte rupestre enquanto materialidade é uma importante fonte para o conhecimento e construção da história das sociedades humanas que as elaboraram. Desde sua descoberta, as preocupações em torno dessas expressões simbólicas trouxeram questionamentos persistentes que levaram a diversas interpretações na tentativa de entender qual teria sido a função atribuída pelo indivíduo, ou grupo, que as produziu, seu significado, o material utilizado e/ou as razões pelas quais elas foram feitas. Ao longo dos anos, essas tentativas de entender o que são e os motivos que deram origem a estes grafismos acabaram abrindo margens para diversas interpretações. Enquanto resultado de expressões culturais de sociedades pretéritas que possuíam um mundo próprio de crenças específicas, nesta pesquisa, os sítios de arte rupestre são pensados do ponto de vista de um agrupamento de propriedades humanas e não-humanas, contestando a ideia de que as pinturas e as gravuras parietais compreendem apenas uma dimensão passiva e unidirecional que atribui a/ao artista que as produziu toda a agência. Por meio do estudo de caso de dois sítios distintos localizados no município de Castelo do Piauí (PI) definimos como nosso objetivo geral identificar aspectos socioculturais do grupo, ou grupos, que esteve, ou estiveram, nos locais em que se encontram os vestígios arqueológicos investigados. Para tanto, estabelecemos etapas in situ e ex situ que buscaram compreender o conteúdo da arte rupestre estudada, os contextos arqueológicos dos quais essas fazem parte e o sentido por trás das informações adquiridas como um todo ao longo desses processos. Ao todo, foram executadas 13 etapas metodológicas que englobaram levantamento bibliográfico, documentação fotográfica dos painéis, tratamento de imagens, vetorização dos grafismos, análises químicas da arte rupestre por meio de Espectrometria de Fluorescência de Raios X (FRX) e Raman, coleta, preparo e análise de amostras sedimentológicas, prospecção e coleta de superfície e curadoria e análise de materiais arqueológicos encontrados. Como resultado de todas essas etapas pudemos observar que, provavelmente, os grupos que ocupavam o território onde hoje está situado o município de Castelo do Piauí possuíam em sua estrutura social espaços e momentos específicos reservados para realização de práticas simbólicas coletivas, além de haver indícios de uma possível liderança espiritual designada para orientação e realização destas práticas.