A relação entre escola e sexualidade é marcada por disputas de poder, tensões referentes à posicionamentos diversos acerca do lugar que ocupa a sexualidade na prática dos sujeitos no exercício do processo educacional. No tocante aos corpos dissidentes de gênero e sexualidade, em conflito com a heteronorma, essa relação é, ainda mais, marcada por meticulosa vigilância e disciplinamento. Entendendo a escola enquanto espaço sociocultural, objetivo compreender os desdobramentos subjetivos da heteronormatividade e do sistema binário de gênero, enquanto dispositivos normativos, nas sociabilidades de jovens dissidentes de gênero e sexualidade e as estratégias de subversão, produzidas por esses sujeitos, a esses dispositivos, no contexto de uma escola pública de nível médio de Teresina-PI. Verificando como se dão as experiências relacionadas à vivência da sexualidade desses jovens e possíveis transgressões ao modelo heteronormativo no espaço escolar, identificando os discursos produzidos sobre sexualidades, e apreendendo como esta atua na formação dos seus grupos de sociabilidade. A pesquisa foi qualitativa, operacionalizada por meio de etnografia no espaço da escola, com o uso de observação participante e oficinas com as/os discentes. Os discursos das/os jovens sobre si, ao tempo que denunciam o caráter naturalizado do gênero, apontaram a dinâmica estratégica do uso da feminilidade e masculinidade, ora como elemento necessário para se perceberem num estado de felicidade, ora atuando como mecanismo de sobrevivência em ambientes hostis, em outros como elemento de contestação da ordem do gênero e dos processos de violências que incidem sobre eles. Nos discursos sobre os outros, acionaram instituições como a escola e a família, além de docentes e discentes, e apontaram a importância que estes têm na forma como elas/es se percebem enquanto sujeitos e vivenciam sua sexualidade e o gênero. Suas experiências apontaram as formas como são re-produzidos discursos nas quais a heteronormatividade e o binarismo de gênero agem como dispositivos de normatização e apontaram mecanismos estratégicos de subversão e resistências da realidade e reconhecimento de suas existências, através principalmente dos grupos de sociabilidades nas quais interagem.