Esta pesquisa visa compreender os sentidos produzidos pelos atingidos com o rompimento da Barragem Algodões I, localizada na cidade de Cocal-PI, na mobilização por seus direitos humanos violados, realizando-se a análise através do conceito de litígio estratégico. Para isso, foi discutido o processo de mobilização das pessoas afetadas pela tragédia socioambiental, considerando suas identidades e o modo como se percebem no processo, a forma como se organizam, as ações que realizam e o modo como os outros atores envolvidos no conflito reagem às demandas formuladas pelos atingidos. Assim, as pessoas afetadas pelo desastre buscam não só a reparação dos danos sofridos, mas acionam o Poder Judiciário para pressionar o Estado a fornecer resposta adequada às suas demandas e alterar políticas públicas a fim de proporcionar melhoria nos seus modos de vida. Desse modo, esta pesquisa tem relevância na medida em que pretende evidenciar o uso do litígio estratégico, um tema pouco estudado no Brasil, pelas vítimas do rompimento da barragem na busca por reparação e efetivação de direitos individuais e coletivos. Além disso, trata-se de um dos maiores desastres socioambientais ocorridos no Estado do Piauí, que exemplifica os problemas vivenciados pela população que vive no meio rural e como as desigualdades sociais são reforçadas nos contextos de tragédia. Some-se a isso o fato de que um acidente nestas proporções deveria levar o poder público a uma maior vigilância nas condições de represamento dos recursos hídricos e rejeitos, ao evidenciar os impactos negativos advindos de grandes empreendimentos. A pesquisa, que no polo teórico reveste-se de abordagem qualitativa e traz uma perspectiva de valorização de saberes não hegemônicos, utilizou-se de levantamento bibliográfico para análise das informações levantadas e investigação documental, além de observação com uso de diário de campo e entrevistas semi-estruturadas. Conclui-se, desse modo, que ao perceberem-se participantes de uma comunidade política e portadores de direitos, os atingidos pelo rompimento da barragem mobilizam-se e reivindicam seus direitos que não estão sendo garantidos porque se reconhecem sujeitos constitucionais e utilizam a litigância estratégica como uma forma de tratamento do conflito socioambiental instaurado com o rompimento da Barragem Algodões I, buscando o equilíbrio de forças entre os atores envolvidos no conflito, principalmente com a conquista de aliados, por meio de manifestações e discussão na esfera pública, a fim de conseguir com que suas demandas sejam atendidas tanto no plano da disputa processual em curso no Poder Judiciário quanto no campo político, com a adoção de políticas públicas voltadas a seus interesses. Além disso, a litigância estratégica se mostra uma forma de disputar a narrativa do direito, tornando-se as pessoas atingidas, de fato, autoras da sua história e das normas constitucionais, resultado da interpretação, constituindo uma fronteira entre o direito orgânico e o sintético