A COVID-19, doença causada pelo SARS-CoV-2, está associada à diversas manifestações, desde sintomas leves a graves, podendo variar de tosse, febre, mialgia, dispneia, desconforto gastrointestinal e até diarreia. Tais manifestações estão relacionadas ao mecanismo de entrada do vírus, ligando-se à Enzima Conversora de Angiotensina 2 (ECA2), que participa do Sistema Renina Angiotensina (SRA), no qual a ligação do vírus promove uma desregulação desse sistema acarretando nos diversos sintomas associados à COVID-19. A diarreia tem sido associada como um sintoma que antecede os sintomas respiratórios graves, pois pacientes que apresentavam sintomas gastrointestinais geralmente necessitavam de suporte ventilatório. Assim, a diarreia tem sido descrita pelo aumento das evacuações com fezes moles e aquosas estando associada ao envolvimento de diversos alvos moleculares, sendo eles: canais de cloreto, transportador de sódio e aminoácidos, transportador de glicose, bomba de
sódio/potássio e canais de água. Diante disso, medicamentos que são capazes de ativar à ECA2 no SRA podem trazer efeitos benéficos para pacientes com COVID-19, incluindo o tratamento da diarreia, como no caso do aceturato de diminazeno (DIZE), que é um fármaco antiparasitário, disponível no mercado há mais de 60 anos e tem sido relatado como um estimulador da ECA2 e capaz de reduzir as citocinas pró-inflamatórias. Assim, o presente estudo objetivou realizar a avaliação da antiviral e antidiarreica do DIZE com os alvos associados à diarreia causada pelo SARS-CoV-2 e avaliação farmacocinética, utilizando metodologia in silico. Os resultados obtidos demonstram que o DIZE é capaz de ligar-se à proteína Spike da cepa de Wuhan (inibição da ligação in vitro entre a ECA2 e Spike em 80%) e a ômicron; promove ainda uma interação molecular como todos os alvos associados à diarreia, com energia de ligação variando de -3,14 à -8,5 kcal/mol e liga-se em regiões de grande interesse nesses alvos, demonstrando assim que possa auxiliar na redução da liberação de cloreto e aumento da absorção de água no lúmen intestinal, reduzindo assim a dirreia. Além disso, a farmacocinética do DIZE demonstrou uma boa absorção intestinal humana (AIH), baixa absorção na pele, inibe a glicoproteína P, possui uma distribuição maior no plasma que nos tecidos, possui uma elevada concentração de fármaco livre, ultrapassa de forma reduzida a barreira hematoencefálica, não demonstrando ser cardiotóxico, não induz sensibilidade cutânea, não demonstrou hepatotoxicidade, apresentou uma boa disponibilidade oral e toxicidade crônica oral em ratos. Assim, presumimos que o DIZE possa ser uma boa opção para o tratamento da diarreia associada à COVID-19; no entanto, possui uma farmacologia com possíveis restrições em relação à dose letal e toxicidade do fármaco no organismo, sendo necessários estudos em modelos animais para constatar tal hipótese.