A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é uma condição prevalente, que acomete cerca de 20% da população ocidental e pode-se apresentar com erosões na mucosa, fenótipo conhecido como esofagite erosiva (EE). Alternativas terapêuticas devem ser consideradas, uma vez que o tratamento de primeira linha falha parcialmente em todos os fenótipos da doença, incluindo a EE. A goma do Cajueiro (GC) é um exsudato extraído da árvore Anacardium occidentale, e possui propriedades farmacológicas já estudadas na DRGE com efeito antiinflamatório e tópico por adesividade à mucosa esofágica. A tiolação de polímeros para aplicações em mucosas tem sido bastante explorada na última década, porém, ainda não se tem evidências da atividade da GC e GC tiolada (GCT) na DRGE. Portanto, objetivou-se sintetizar e caracterizar a GCT, realizar a predição toxicológica in silico, bem como avaliar o efeito da GC e GCT em diferentes modelos de DRGE. A GC foi tiolada utilizando ácido tioglicólico e ácido clorídrico, posteriormente foram realizadas as caracterizações físico-químicas e morfológicas através do método de Ellman, espectroscopia de infravermelho (FTIR), análise elementar (AE), potencial Zeta, microscopia eletrônica de varredura (MEV) e difração de raios X (DRX). Para indução da esofagite erosiva, em ratos, realizou-se um procedimento cirúrgico sob anestesia com estenose pilórica, seguida de ligadura do fundo gástrico. Os ratos foram divididos em cinco grupos: (1) controle (sham); (2) esofagite erosiva (EE); (3) alginato comercial, v.o.; (4) GC 10%, v.o.; e (5) GCT 10%, v.o. Os ratos nos grupos 3-5 foram tratados 30 min antes da indução cirúrgica de EE. Após 10h, coletou-se os esôfagos para análise macroscópica e peso úmido. Amostras da região distal do esôfago foram coletadas para a avaliação da atividade de mieloperoxidase (MPO), glutationa (GSH) e malondialdeído (MDA) e análise histopatológica para visualização de muco. Para investigar a interação da GC e GCT com mucina-2, foi realizada uma série de ensaios in vitro e in silico, incluindo QCM-D, tensiometria, AFM e docagem molecular. A modificação química da GC pela adição do grupo tiol alterou a carga superficial (potencial Zeta) da GCT, e a ligação do grupo –SH foi confirmada por espectros de FTIR, corroborada pela presença do S através da análise elementar. A análise morfológica da GC e CGT revelou alterações na superfície quando comparadas entre si, enquanto o DRX foi possível verificar o comportamento amorfo dos polímeros. A predição toxicológica in silico, pelo ensaio de ADMETOX, sugeriu segurança da GCT. Com relação ao estudo in vivo, os resultados demonstraram que o pré-tratamento com a GC10% e GCT10% reduz o índice de lesão em animais com EE. Além disso, verificou-se que os animais com EE estabeleceram inflamação na mucosa esofágica com o aumento de edema, MPO e MDA, seguidos de redução de GSH. Os pré-tratamentos com GC10% e GCT10% diminuíram os níveis de edema, MPO, MDA, enquanto preservaram os níveis de GSH. Notavelmente, a redução de MDA foi melhor no grupo GCT. Os resultados também demonstraram a preservação da camada de muco no grupo GC e GCT. Ademais, a interação da GC e GCT com mucina-2 demonstrada por QCM-D, tensiometria, AFM e docagem molecular revelou vantagem da GCT sobre a GC. Em resumo, os resultados obtidos com a GC e GCT foram promissores, destacando seus potenciais para o tratamento da DRGE. Além disso, esses achados evidenciam pela primeira vez que a tiolação da GC pode abrir portas para o desenvolvimento de produtos biotecnológicos para o manejo de pacientes com DRGE.