Os polissacarídeos naturais (PS) são compostos por longas cadeias que contêm centenas ou milhares de monossacarídeos, sendo componentes presentes em praticamente todos os seres vivos e desempenhando diversas funções. Em aplicações médicas, possuem numerosas atividades biológicas nas mais diversas áreas, assim como na indústria química e farmacêutica. Estas moléculas podem apresentar atividade contra células tumorais por meio da ativação e modulação do sistema imunológico, ligação com receptores específicos ou indução de morte celular programada, além de outras ações. Porém, a imunomodulação é uma das vias mais descritas desta classe de molécula, em resumo esta atividade está relacionada principalmente com a ativação de macrófagos, linfócitos T e B e células Natural Killers. A goma do cajueiro já foi descrita com interessante potencial antitumoral frente a linhagem de melanoma B16F-10 in vivo. No entanto, ainda não foi descrito em literatura sobre seu envolvimento com o sistema imune na inibição tumoral. Além disso, importantes avanços têm sido demonstrados em relação a combinação de tratamentos para o câncer com o objetivo de melhorar o potencial inibitório e/ou diminuir os efeitos colaterais gerados pela utilização de quimioterápicos. Assim, este trabalho teve como objetivo demonstrar o perfil de atividade antitumoral da Goma do cajueiro (GC) isolada e em combinação com quimioterápicos e sua relação com células do sistema imune para este processo. Para tanto, foram utilizados dois modelos animais de teste de inibição. O primeiro modelo executado utilizou células de melanoma metastático murino (B16F10) inoculados subcutaneamente em camundongos Black (C57BL/6). O segundo modelo buscou avaliar a interação de linfócitos B e T para o processo de inibição tumoral, empregando o modelo animal SCID CB17 (camundongos imunossuprimidos para linfócitos B e T), utilizando células de carcinoma de cólon HCT-116. Nos dois modelos, os animais foram agrupados para determinar os tratamentos, incluindo: PBS ou Salina como controle negativo, Ciclofosfamida (10 mg/kg/dia) para o modelo de melanoma e 5-Fluorouracil (7,5 e 15 mg/kg/dia) para o modelo de cólon, como controle positivo. Além disso, foram administradas duas doses de GC (50 e 100 mg/kg/dia) e uma combinação da menor dose de polissacarídeo com a menor dose do quimioterápico para ambos os modelos. Após o período de tratamento de 14 dias, os animais foram eutanasiados e o material foi coletado para posteriores análises sanguíneas, histológicas, citometria de fluxo, ELISA, Imunofluorescência, Imunohistoquímica e qRT-PCR. No modelo de melanoma foi possível observar que a GC foi capaz de aumentar a quantidade de glóbulos brancos, mesmo na presença da ciclofosfamida. Além de influenciar a ativação de macrófagos associados ao tumor (TAM), aumentando a expressão de Il4 e reduzindo a expressão dos genes Ifng, Il1b, Tgfb e Il6, mantendo a atividade antitumoral. Já no modelo de câncer de cólon, foi possível observar que a GC isolada e em combinação manteve a atividade antitumoral apresentada previamente no modelo em camundongos C57BL/6, apresentando cerca de 50% de inibição tumoral e que a combinação de tratamentos, além de induzir aumento da infiltração de macrófagos, promoveu redução da proliferação celular e diminuição do processo de angiogênese, a partir da redução da expressão de CD31 e α-SMA. Estes resultados indicam importantes avanços para a possível aplicação da goma do cajueiro para o tratamento do câncer, entretanto estudos mais aprofundados acerca da participação deste polímero no organismo, precisam ser executados para que possam ter uma visão mais segura e concretada da aplicabilidade deste material em sistemas biotecnológicos.