O angico vermelho (Anadenanthera colubrina var. Cebil (Griseb.) Altschul) é
uma espécie arbórea de grande porte que libera uma resina de cor avermelhada. A goma
do angico (GA) obtida a partir da resina, apresenta características de
heteropolissacarídeos compostos de 67,8% de arabinose, 24,1% de galactose, 2,0% de
ramnose e 5,9% de ácido glucurônico, exibindo um grande potencial para aplicações
biotecnológicas. Contudo, poucos trabalhos estão relacionados a modificação por
quaternização da goma para obtenção da atividade antifúngica utilizando o CCHPTA.
Por ser desconhecidos trabalhos relacionados à quaternização da goma do angico para
adquirir propriedade antifúngica, neste trabalho foi investigado o perfil antifúngico da
goma do angico vermelho modificada com o agente eterificante CCHPTA, bem como a
sua citoxicidade. Para tanto, a goma foi isolada, quaternizada e caracterizada por
espectroscopia na região do infravermelho - FTIR (SHIMADZU IRAffinity-1S),
utilizando a técnica de reflexão total atenuada (ATR), com espectro variando de 4000 a
700 cm −1 . Para a determinação da carga superficial das gomas foram realizadas as
medidas de potencial Zeta (mV) utilizando o aparelho Malvern Zetasizer Nano ZS90. A
composição de carbono, hidrogênio e nitrogênio foi obtida através da análise elementar
utilizando-se um analisador CHNS Perkin Elmer 2400 series. Onde o grau de
substituição (GS) do modificado GAQ foi obtido pela porcentagem de nitrogênio. A
distribuição de massa molar foi determinada por cromatografia de permeação em gel em
equipamento Shimadzu LC-20AD acoplado a um detector de índice de refração (RID-
10A). O teste de susceptibilidade antifúngica foi conduzido de acordo com o método de
crescimento em microdiluição, onde foi avaliado o perfil antifúngico da goma normal e
modificada frente as cepas de Fonsecaea pedrosoi ATCC 46422, Microsporum canis,
Candida albicans ATCC 10234 e Cryptococcus neoformans ATCC 48189. Foi
realizada a análise da atividade antifúngica por Microcopia de Força Atômica (MFA) e
realizada espectroscopia na região do infravermelho – FTIR para avaliar os
componentes fúngicos após o tratamento com a GAQ. O perfil citotóxico da GA e GAQ
pelo método de MTT frente a linhagem HEK293 (células do Rim Humano
Embrionário). A partir dos dados de caracterização foi possível observar que o
polissacarídeo que passou pelo processo de quaternização apresentou indícios por FTIR,
análise elementar, potencial Zeta e massa molar, de que o grupamento foi inserido. A
partir do ensaio antifúngico foi possível observar que goma inibiu o crescimento das
cepas C. neoformans, M. canis, F. pedrosoi. No entanto, não houve inibição para C.
albicans nas concentrações testadas. Através das análises de MFA e FTIR das cepas
fúngicas tratadas com a GAQ, foi possível observar que a goma interagindo a nível de
estabilização da parede celular, alterando significativamente a nanorugosidade da
superfície e até mesmo desoneração da parede fúngica, sendo os constituintes da mesma
não observados nos espectros de FTIR. A GA apresentou uma citotoxicidade inferior a
1% para as células testadas e abaixo de 14% para o derivado quaternizado. Sendo um
biomaterial bastante promissor para aplicações biotecnológicas.