Com o presente trabalho, esta pesquisadora busca, a partir da perspectiva decolonial, investigar-compreender a (re)construção da identidade de habitantes das seis Comunidades Quilombolas em Paulistana no Piauí (Chupeiro, Angical, São Martins, Contente, Sombrio e Barro Vermelho), já certificadas junto a Fundação Palmares, que a partir de 2004 utilizam as narrativas dos lóci geopolíticos e corpos-políticos de enunciação e reinvindicação como mecanismos para legitimar a regularização fundiária, elemento crucial para o citado projeto identitário. A preocupação de autodefinição enquanto quilombola perpassa por “distorções” e silenciamentos que a partir do contexto pós-abolição estruturaram e institucionalizam dimensões sociais através de uma linguagem fundamentada no paradigma do outro, categorias semânticas que determinam quem pode falar e de que se pode falar (CARNEIRO, 2005; KILOMBA, 2019; SPIVAK, 2010), fortalecida na atualidade com uma legislação que não leva em consideração às dimensões espaciais/temporais de diferentes vivências construídas sob a forja do “enquadramento” da legislação brasileira. Situação esta que nos levou ao seguinte questionamento: Se existe uma linguagem quilombola, um modo próprio de ser, fazer e refazer comunidades no território, como essa linguagem dialoga com os dizeres do de fora, como Leis e o Estado que regulamentam direitos sociais e territoriais? Assim, decidimos promover encontros dialéticos de pesquisa centrados em sujeitos que se constituem continuamente além da imposição de processos identitários alienados por processos históricos de dominação global (LANDER, 2015; SANTOS, 2010). O objetivo é compreender através das rodas de conversas, quais/como as experiências educacionais e práticas de organização e constituição quilombola apoiam construir uma linguagem de existir/ser/tornar-se que rejeitam a lógica sistêmica de uma universalidade hegemônica na/para construção de um senso de povo/grupo social nas Comunidades quilombolas em Paulistana-PI. Não podemos deixar de ressaltar ainda as implicações de um privilégio epistêmico que mantém e naturaliza essa estrutura que opera por separações sucessivas e reducionistas em tentativas de seccionar troncos identitários (GROSFOGUEL, 2016; MIGNOLO). O chamamento do trabalho, a nossa tese, apoiada pelas análises-interpretações dos dados desenvolvidos no campo, é para (re)pensarmos/dialogarmos com uma cosmopercepção, cosmovivência como possibilidades de ser/estar como formas humanas e de conhecimentos pluriversais, que constituem relações cognitivas com o mundo e com os outros (BOAKARI, 2007, FREIRE 2011) por meio de uma teia de transmissão inter e transgeracional de conhecimentos e experiências, dentre as quais a memória está viva. As experiências da pandemia continuam tendo influências diversas em todos os aspectos desta investigação desde o início, e não sabendo até quando as repercussões desta crise social-sanitária permanecerão, não será possível incorporá-las de forma descritiva neste trabalho.