Os bufadienolídeos são esteroides cardiotônicos, de origem natural. Uma fonte desses compostos ativos
é a secreção de sapos pertencentes à família Bufonidae e o gênero Rhinella apresenta notoriedade. A
marinobufagina (MBG) refere-se a um bufadienolídeo isolado, com propriedades cardiotônica,
antiproliferativa, antimicrobiana e anti-inflamatória. Diante disso, objetiva-se avaliar as propriedades
toxicológicas sistêmicas do composto MBG isolado da secreção cutânea do sapo Rhinella marina usando
ferramentas in sílico, in vitro e protocolos de ação central in vivo. Para isso, estudos in silico foram
conduzidos nos softwares online PreADMET, SwisADME e SwissTatgetPrediction para predição de
propriedades físico-químicas e farmacocinéticas, toxicidade, perfil de semelhança às drogas e de
prováveis alvos proteicos. O protocolo in vitro consistiu no ensaio de inibição da acetilcolinesterase
(AChE). Nos testes in vivo, utilizaram-se camundongos Swiss, que foram submetidos ao screening
hipocrático para avaliação da toxicidade aguda (MBG nas doses 1,25; 2,5; 5,0 e 10 mg/Kg por via
intraperitoneal (i.p.). No intuito de investigar o mecanismo de ação convulsivante, os animais receberam
pré-tratamentos inerentes às vias de neurotransmissão avaliadas (expressos em mg/Kg): atropina 25,0,
morfina 0,1, diazepam 5,0, clonazepam 2,0, cetamina 0,5, fluoxetina 10,0 e haloperidol 10,0 – e de canais
iônicos – carbamazepina 20 mg/Kg e gabapentina 150 mg/Kg. Com base nos resultados apurados pela
análise computacional, constataram-se relevantes atributos físico-químicos: boa lipossolubilidade (Log P = 23,13) e baixa hidrossolubilidade (Log S = -3,99), elevada capacidade de absorção intestinal humana(93,74%), dado também estimado pela BOILED-Egg, média permeabilidade em células MDCK e Caco-2 (4,29 e 22,27 nm/s, respectivamente), alto grau de ligação às proteínas plasmáticas (93,26%), metabolização pela CYP34. Quanto à predição de similaridade às drogas, a MBG atendeu às regras de Lipinski e CMC-like, respeitou a região ótima do Radar de Biodisponibilidade, e foi considerada intermediária pela regra MDDR like. Nos testes de toxicidade in silico, o composto mostrou potencial carcinogênico. A predição computacional apontou as proteínas quinases e enzimas como alvos potenciais. No protocolo in vitro, o composto inibiu 42,42% a AChE na maior concentração avaliada (10µg/mL). A MBG revelou toxicidade aguda dependente da dose no SNC, com destaque para a convulsão observada na dose de 10 mg/Kg. O pré-tratamento com os fármacos interferiram na morte. O haloperidol aumentou o tempo de latência para primeira convulsão, enquanto cetamina e carbamazepina aboliram-na. Desse modo, a predição computacional revelou que a MBG apresenta atributos relevantes que contribuem para categorizá-la como fármaco. A análise in vitro demonstrou potencial atividade anticolinesterásica do composto e os estudos em roedores demonstraram as propriedades neurotoxicológicas, com destaque para as crises convulsivas agudas (que possivelmente abrangem a participação da via GABAérgica, dopaminérgica, glutamatérgica e dos canais Na v ).