A dor é o sintoma mais prevalentes e temidos de pacientes oncológicos, enquanto a inflamação está implicada no desenvolvimento e progressão do câncer. Portanto, o tratamento farmacológico da dor e da inflamação no câncer é uma questão de grande interesse e potencial importância. Contudo, o desenvolvimento de novos fármacos desde a identificação inicial é um processo complexo, demorado e com altos custos. O reposicionamento farmacêutico surge como uma promissora estratégia alternativa, visto que diminui o tempo e a complexidade relacionada ao desenvolvimento de novos medicamentos. Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar as propriedades de anti-helmínticos contra inflamação e sinais de nocicepção de base inflamatória ou neurogênica em um protocolo de dor oncológica. Dessa forma, foi analisado o potencial anti-inflamatório dos anti-helmínticos em protocolos de inflamação na pata de camundongos induzida por carragenina e mediadores flogísticos, além dos efeitos na migração e perfil leucocitário no protocolo de peritonite. E ainda, verificou-se a atividade antinociceptiva e as alterações comportamentais associadas em um protocolo de dor oncológica induzido por S180. Os resultados de ação anti-inflamatória sugerem que a capacidade antisserotoninérgica e anti-histamínica da ivermectina, niclosamida e albendazol envolva a atenuação local da desgranulação mastocitária, fato que explica a boa atividade no protocolo de edema de pata induzido por carragenina e 48/80 e excelente capacidade de inibição da migração de leucócitos polimorfonucleares e mononucleares m para a cavidade peritoneal. Embora todas as moléculas anti-helmínticas (ivermectina, niclosamida, mebendazol, albendazol, praziquantel e piperazina) tenham sido capazes de diminuir o número de contorções abdominais, a potencialidade analgésica inibidora da sensibilização de fibras C amielínicas e o tempo de lambida da pata no protocolo de formalina variou de acordo com a via (neurogênica: niclosamida, praziquantel, piperazina e mebendazol; inflamatória: ivermectina, mebendazol e albendazol). Enquanto isso, o mebendazol, albendazol e piperazina foram as únicas moléculas capazes de diminuir a alodinidia mecânica em camundongos transplantados com tumor S-180 na pata. Por outro lado, os animais tratados com niclosamida, praziquantel e piperazina revelaram algumas alterações comportamentais semelhantes ao diazepam, mas sem o efeito sedativo e relaxante muscular típico dos benzodiazepínicos. Assim, a ivermectina, com potentes efeitos anti-inflamatórios em doses mais baixas que os demais anti-helmínticos, e o mebendazol, com ações anti-edematogênicas e dessensibilizadoras de dor oncológica, foram os compostos com resultados mais promissores, inclusive indicando o mebendazol ação antinociceptiva de base neurogênica e inflamatória.