A resistência bacteriana aos antibióticos tem se tornado um problema para os sistemas de saúde de países de todo o mundo, uma vez que o tratamento das infecções causadas por bactérias resistentes está se tornando cada mais difícil e onerosa. A capacidade de um microrganismo resistir a ação de um fármaco ao qual antes era suscetível, pode ser adquirida por diferentes mecanismos, entre os quais merece destaque a capacidade do patógeno fazer a extrusão do antibiótico por meio de proteínas transmembranares, conhecidas como bombas de efluxo. Neste contexto, os inibidores de bombas de efluxo tem sido propostos como uma importante estratégia tecnológica que poderia ser aplicada na inibição deste mecanismo de resistência. As chalconas consistem em uma classe de flavonoides de cadeia aberta que apresentam como estrutura básica o [1,3-difenil-2-propen-1-ona]. Essa classe tem atraído grande interesse científico ao longo da história devido à sua vasta gama de atividades biológicas. O presente estudo teve como objetivos a realização de uma prospecção científica e tecnológica da espécie A. brachypoda sobre sua ação antibacteriana, e avaliação da atividade antimicrobiana de chalconas isoladas das flores de Arrabidaea brachypoda, um arbusto nativo do cerrado brasileiro, bem como a investigação do seu efeito modulador da resistência à antibióticos de diferentes classes em cepas de S.aureus que superexpressam genes que codificam bombas de efluxo específicas (NorA,TetK, MsrA, MepA, QacA/B e QacC). Foi realizada ainda uma predição in silico da farmacocinética e toxicidade da chalcona CH-4 através do programa pkCSM. As chalconas isoladas CH-1, CH-4 e CH-5 não apresentaram atividade antimicrobiana intrínseca contra S. aureus, E. coli e C. albicans, no entanto, a chalcona CH-3 foi ativa contra C. albicans. Além disto, todos os compostos isolados foram capazes de potencializar a atividade antibiótica da Norfloxacina contra a cepa SA1199-B (norA), com melhor ação moduladora verificada para o composto trimetoxilado CH4. Os compostos isolados também foram capazes de potencializar a ação do BrEt contra a cepa SA1199B, sugerindo que o efeito modulador da resistência à Norfloxacina verificado para estes compostos envolve, provavelmente, a inibição da bomba de efluxo NorA. Análises de docagem molecular in silico evidenciaram que as chalconas testadas, em especial o composto CH4, são capazes de se ligar na cavidade hidrofóbica de NorA, no mesmo sítio de ligação da Norfloxacina, indicando que estes compostos competem com o antibiótico pelo mesmo sítio de ligação. Também foi possível constatar que CH4 foi capaz de interferir na atividade das bombas de efluxo MepA e QacA/B. Por outro lado, CH4 interferiu fracamente na atividade de QacA/B e não inibiu a atividade das bombas TetK, MsrA e QacC. Estes resultados indicam que a CH4 é um agente modulador da resistência a Norfloxacina em cepas que superexpressam NorA e MepA. Portanto, este composto poderia ser aplicado em combinação com a Norfloxacina no tratamento de infecções causadas por S. aureus resistentes pela superexpressão de NorA e MepA. O estudo in silico para a molécula CH-4 demonstrou parâmetros farmacocinéticos aceitáveis como boa absorção intestinal e permeabilidade cutânea. Da mesma forma, apresentou parâmetros de toxicidade que garantem a perspectiva de continuidade dos seus estudos in vitro e in vivo como ausência de toxicidade e não inibição de hERG I e II.