Nanoencapsulação de um derivado peptídico isolado de secreção mucocutânea de rã com potencial uso farmacológico.
Dermaseptinas, dermaseptina 01, lipossomas, peptídeos catiônicos, atividade antitumoral in vitro, citotoxicidade.
A dermaseptina 01 (DS01) é um peptídeo catiônico anfifílico extraído e isolado da secreção mucocutânea de anuros (rãs e sapos) do grupo de espécies Phyllomedusa hypochondrialis. Dermaseptinas exercem forte, seletiva e rápida ação lítica sobre membranas celulares de patógenos e fraca ação sobre as membranas celulares de mamíferos. Todavia, exibem baixa resistência à atividade proteolítica do soro e do plasma, e portanto são rapidamente depuradas pelo organismo após a administração, isto é, possuem limitada atividade in vivo. Lipossomas são nanossistemas carreadores de fármacos amplamente utilizados e que podem perfeitamente encapsular proteínas, protegendo-as contra a proteólise ou outros fatores desestabilizadores. Neste trabalho, objetivou-se preparar formulações farmacêuticas lipossomais unilamelares pequenas, convencionais e furtivas para a encapsulação do peptídeo DS01; caracterizar esses sistemas fisicoquimicamente, verificando suas estabilidades físicas e avaliar a atividade antitumoral in vitro dessas formulações. Os lipossomas foram preparados pelo método de hidratação do filme lipídico seguido de sonicação. A relação das concentrações lipídio/peptídeo totais foi de 38 μM / 50 μg/mL. Os parâmetros de caracterização foram aferidos no tempo zero (com 24 horas) e após os testes de estabilidade acelerada (agitação mecânica e centrifugação) e à longo prazo (em dias até perda da estabilidade). Lipossomas não-carregados com o peptídeo foram preparados para controle. A atividade antitumoral in vitro da DS01 livre e na forma lipossomal foram analisadas em células de adenocarcinoma de cólon humano (HT-29) e carcinoma epidermóide de laringe humana (HEp-2) pelo método de redução do sal de tetrazólio (MTT). Ao tempo zero, as formulações convencionais apresentaram pH: 7,5; tamanho de partícula: 181,5 ± 61,2 nm; índice de polidispersão: 0,154 ± 0,072; ; e potencial zeta: + 11,89 ± 2,11 mV; lipossomas furtivos apresentaram: 7,5; 105,7 ± 2,0 nm; 0,279 ± 0,008; e + 10.29 ± 1.08 mV, respectivamente. Todas as formulações demonstraram efeito Tyndall, e não se observou traços de instabilidade à microscopia óptica. Após os testes de estabilidade acelerada e à longo prazo, as formulações convencionais permaneceram estáveis em todos os parâmetros, exceto tamanho médio; as formulações furtivas foram completamente estáveis. Todos os diâmetros médios permaneceram inferiores à 500 nm. O ensaio de redução do MTT demonstrou os seguintes valores de inibição tumoral em porcentagem para HT-29 e HEp-2 respectivamente: DS01 livre, 50,10 ± 1,32% e 51,34 ± 3,52%; DS01 encapsulado em lipossomas convencionais, 82,26 ± 2,71% e 86,18 ± 4,36%; DS01 em lipossomas furtivos, 96,32 ± 0,81% e 100 ± 0,83%; lipossomas não-carregados convencionais, 76,69 ± 4,03% e 84,42 ± 2,18%; e lipossomas não-carregado furtivos: 100 ± 0,81% e 100 ± 0,52%. Portanto, o peptídeo DS01 foi incorporado em carreadores lipossomais convencionais e furtivos com sucesso, embora testes de caracterização das preparações ainda estejam sendo realizados, contudo o seu potencial lítico sobre membranas biológicas foi potencializado com a nanoencapsulação. Os lipossomas (não-carregados e carregados) apresentaram também atividade inibitória considerável, sendo maior que a ação do peptídeo livre, para as duas linhas celulares testadas. As formulações furtivas apresentaram maior percentual de inibição que as convencionais. Outros estudos são necessários para distinguir o perfil de inibição tumoral entre lipossomas vazios e contendo DS01. Destacadamente, as formulações furtivas poderão ser utilizadas em outros ensaios pré-clínicos de atividade farmacológica.