Atividades farmacológicas da guatteriopsiscina, composto isolado da espécie Guatteria friesiana (Annonaceae), na terapia da doença de Alzheimer
Guatteriopsiscina; Atividade anticolinesterásica; Complexo de inclusão
A guatteriopsiscina é um alcaloide que pode ser isolado das folhas ou do caule da espécie Guatteria friesiana (W.A. Rodrigues) Erkens & Maas (Annonaceae), uma planta nativa do Brasil, conhecida popularmente como “envireira e encontrada particularmente na região Amazônica. Em um screening fitoquímico realizado com alcaloides, a guatteriopsiscina apresentou significativa atividade inibidora da acetilcolinesterase (AChE), enzima que degrada o neurotransmissor acetilcolina nas sinapses nervosas; que sugere a possível aplicação desse alcaloide em doenças que apresentam, em seu processo fisiopatológico, uma redução dos níveis de acetilcolina, como é o caso da doença de Alzheimer (DA). A DA é neurodegenerativa, irreversível e progressiva e um dos tipos de demência que mais atinge a população mundial, principalmente os idosos e, apesar de não ter cura, o uso de fármacos inibidores da AChE é um tratamento que tem sido bastante eficaz em diminuir os sintomas dessa doença. Nesse contexto, este estudo objetivou avaliar os efeitos da guatteriopsiscina sobre o sistema nervoso central de camundongos, com ênfase na atividade anticolinesterásica, além de propor a complexação deste alcaloide com β-ciclodextrina, a fim de melhorar a solubilidade da guatteriopsiscina em água. Assim, esta pesquisa se iniciou com uma prospecção científica e tecnológica sobre a espécie G. friesiana. Em seguida, realizou-se ensaios in vitro para verificação das atividades anticolinesterásica e antioxidantes e ensaios in vivo para verificação dos efeitos sobre a atividade locomotora, ansiolítica, antidepressiva e sobre a memória em camundongos tratados com guatteriopsiscina em três doses diferentes. A atividade anticolinesterásica ex vivo foi avaliada nas seguintes áreas cerebrais: córtex frontal, hipocampo e cerebelo. Para a complexação da guatteriopsiscina com β-ciclodextrina utilizou-se a técnica de malaxagem sendo a caracterização química realizada através das análises a saber: espectroscopia na região do infravermelho, difração de raios X, análise termogravimétrica, microscopia eletrônica de varredura e ressonância magnética nuclear. As interações supramoleculares envolvidas no processo de complexação foram estudadas através das medidas de tempo de relaxação longitudinal (T1). Também foram feitos estudos de dissolução. Todos esses estudos mostraram que a guatteriopsiscina possui atividade anticolinesterásica superior a da rivastigminina, medicamento utilizado no tratamento da DA, e efeito sobre a memória de camundongos equiparáveis ao efeito desse medicamento. Além disso, a complexação com β-ciclodextrina foi confirmada e esta promoveu melhora da solubilidade do alcalóide. Portanto, os resultados obtidos foram promissores para elaboração da formulação farmacêutica com o complexo e sua possível aplicação na terapia da doença de Alzheimer.