Entre os maiores desafios da biologia do transplante na atualidade, figura o desenvolvimento das rejeições mediadas por anticorpos, notadamente, anticorpos específicos contra o doador (DSA) em transplante renal. Uma possível resolução a essa problemática é o desenvolvimento de métodos que permitam predizer acuradamente o surgimento de tais rejeições. Com esse racional, imunogeneticistas e bioinformatas combinam esforços na tentativa de identificar tanto os anticorpos anti-HLA quanto os seus potenciais alvos de ligação nessas moléculas. Nesse sentido, alguns importantes avanços já foram dados com a determinação de potenciais alvos na estrutura primária de algumas moléculas. Sabe-se, porém, que determinantes antigênicos para anticorpos estão em configuração tridimensional ao invés de linear. Isso significa, que a confirmação dos alvos antigênicos preditos, bem como a descrição daqueles ainda não determinados, exigem o conhecimento detalhado da estrutura tridimensional das proteínas HLA. Moléculas HLA são o produto da expressão dos genes mais polimórficos que se conhece em humanos. De fato, somente para os genes HLA de classe I, são conhecidos atualmente 12631 alelos, um número que está em franca expansão, graças ao advento da nova tecnologia de sequenciamento de DNA, NGS (NewGeneration Sequencing). Do montante de moléculas HLA de classe I descritas, apenas um número muito pequeno possui estruturas cristalográficas determinadas. Além disso, da mesma forma que para moléculas HLA de classe I, moléculas HLA de classe II são também muito numerosas e possuem pouquíssimos alelos resolvidos cristalograficamente. O descompasso entre a necessidade de estruturas tridimensionais de alta qualidade de proteínas HLA (para a determinação de alvos de anticorpos anti-HLA) e a carência de tais estruturas nos bancos de dados atualmente disponíveis pode ser resolvida pela criação, in sílico, de um banco de dados de estruturas tridimensionais preditas para as referidas moléculas. Com esse racional em mente desafiamo-nos a criar o Banco de estruturas tridimensionais preditas para moléculas HLA. A estratégia inicial foi a predição de modelos tridimensionais para cada um dos alelos presentes nos kits de ensaios de fase sólida atualmente comercializados e utilizados pelos laboratórios de imunogenética na em testes de PRA (Panel of Reactivity of Antibody), tanto para HLA de classe, como para classe II. A estratégia experimental foi a modelagem por homologia, utilizando ferramentas de uso público altamente confiáveis e de ampla aceitação pela comunidade científica mundial.