A cólera é uma doença infecciosa aguda considerada como a segunda principal causa de mortalidade no mundo entre crianças, e uma das principais causas de morbidade em adultos. O agente causador da cólera é a bactéria Vibrio cholerae, que se multiplica rapidamente no intestino humano produzindo a chamada toxina da cólera (TC) que provoca uma diarreia aguda intensa, que se não tratada tem evolução rápida, em horas, com desidratação grave. Classicamente a cólera é caracterizada como uma diarréia secretória, devido ao efeito direto da TC sobre as células epiteliais intestinais, promovendo nestas uma ativação excessiva da adenilato ciclase (AC) e consequentemente um aumento dos níveis intracelulares de AMPc, o que culmina com a secreção excessiva de Cl- e água para o lúmen intestinal. Apesar dessa classificação sabe-se que o Vibrio cholerae pode estimular também uma modesta resposta inflamatória intestinal e ativação do sistema nervoso entérico através de produção da TC, fatores que também contribuem para a fisiopatologia da cólera. A solução de reidratação oral (SRO) é o método mais eficaz para o tratamento da cólera. Apesar de combater a desidratação, a eficácia da SRO é limitada, particularmente nos jovens e idosos, em que a perda intensa de fluido intestinal pode ser complicada nos casos de desnutrição e pneumonia. Outro fator que limita a eficácia da SRO consiste na dificuldade de repor grandes quantidades desta, principalmente nos casos de cólera associados a desastres naturais. Assim, a busca por moléculas antissecretórias para o tratamento da cólera pode ser eficaz quando a SRO não está disponível, sendo que moléculas antissecretórias podem potencializar a eficácia da SRO. Nesse sentido, objetivou-se efetuar um levantamento científico, no capítulo I, no formato de revisão de literatura sobre as principais moléculas em estudo para o tratamento da cólera, bem como discutir os principais alvos moleculares destas. Além disso, no capítulo II foi realizado um estudo com moléculas doadoras de H2S para avaliar o efeito deste mediador sobre: parâmentros morfológicos; níveis de mediadores inflamatórios e anti-inflamatórios; bem como do transportador de serotonina em tecido intestinal tratado com a toxina da cólera em camundongos. Os achados no artigo de revisão apontam um número considerável de moléculas com potencial terapêutico para a cólera. Os receptores regulador de condutância transmembranar de fibrose cística (CFTR), monossialogangliosídeo (GM1), a enzima encefalinase, a proteína quinase ativada por AMP (AMPK), inibidores da expressão de fatores de virulência e ativadores da enzima ADP-ribosilarginina hidrolase são os principais alvos terapêuticos abordados na literatura. Com isso, conclui-se que muitas moléculas apresentam potencial no tratamento da cólera, em adição o H2S também representa uma abordagem terapêutica promissora cujo mecanismo de ação em parte envolve um aumento de inibidores do NFKB, envolvidos na resposta inflamatória e proteção da morfologia das vilosidades e criptas intestinais. Dessa forma, este estudo mostra a relevância da atividade antidiarreica H2S, e indica que drogas doadoras de H2S são candidatas promissores para a terapia da cólera.