Os materiais de origem natural representam alternativas cada vez mais atrativas para o desenvolvimento de novos dispositivos visando a melhoria da saúde e da qualidade de vida da sociedade. Entre as possibilidades, os argilominerais aliam sua capacidade adsortiva, estabilidade térmica, reforço mecânico, viscosidade e biocompatibilidade à imobilização de moléculas bioativas no design de materiais multifuncionais. A palygorskita (PAL) é um argilomineral natural de morfologia fibrosa, de ocorrência no estado do Piauí com potencial para ser usado na ancoragem de moléculas orgânicas. Uma classe de moléculas de interesse é a dos peptídeos antimicrobianos (PAMs), detentores de propriedades antibacteriana, antiviral, antifúngica e antiparasitária podendo atuar como elementos terapêuticos ou no reconhecimento de agentes patogênicos em sistemas sensores. A Dermaseptina 01 (DRS 01) é um peptídeo sintetizado da secreção dérmica de anfíbios anuros da família Phyllomedusidae. Esta biomolécula tem sido alvo de estudos na área médica, incluindo sua associação com nanoestruturas. Outra classe de compostos é a dos exopolissacarídeos, produtos biotecnológicos sintetizados a partir de uma gama de organismos, entre eles, as bactérias, como as do gênero Sphingomonas. A goma gelana (GG) é um biopolímero com aplicações estabelecidas na indústria alimentícia, farmacêutica e na área médica devido às suas propriedades de biocompatibilidade. Diante do potencial destes materiais, o presente trabalho apresenta os avanços recentes na literatura acerca das moléculas biológicas imobilizadas em argilominerais evidenciando as biomédicas, seja para o desenvolvimento como biossensores, na medicina regenerativa ou mesmo em sistemas de entrega controlada. Para a parte experimental, a PAL foi previamente submetida a processos de purificação para o enriquecimento de suas propriedades adsortivas, o qual demonstrou um papel importante na resposta dos materiais formados. A imobilização do peptídeo DRS 01 pelo argilomineral PAL foi realizada por meio da técnica Layer-by-Layer (LbL) sobre substrato de óxido de estanho dopado com índio (ITO). Os filmes LbL foram caracterizados eletroquimicamente por Voltametria Cíclica (VC) em meio tampão fosfato 0,1 mol L −1 (pH 7,25; 25°C) a velocidade de 50 mV/s, Espectroscopia de UV-Vis, FTIR por reflexão total atenuada (FTIR-ATR) e Microscopia de Força Atômica (MFA). Os resultados para os filmes ITO/DRS 01 e ITO/PAL/DRS 01 mostraram um processo de oxidação em 0,77 V, demonstrando que a DRS 01 manteve seu comportamento eletroativo. Além disso, a utilização da PAL purificada influenciou positivamente a formação do filme com aumento na densidade de corrente de 1,82 µAcm-2 (ITO/PAL-IN/DRS 01) para 2,63 µAcm-2 (ITO/PAL/DRS 01) corroborando os resultados de DRX da PAL. A variação no número de bicamadas apresentou um aumento na densidade de corrente (4,60 μAcm-2 ) para o filme contendo 3 bicamadas, ITO/(PAL/DRS 01)3. Os filmes LbL a base de DRS 01 e PAL surgem como uma alternativa no desenvolvimento de plataformas versáteis e de fácil preparação. A PAL, por sua vez, também foi avaliada em associação com a a goma gelana quanto à sua aplicação no desenvolvimento de filmes casting como plataforma para liberação de fármaco. Duas amostras de PAL foram testadas, uma natural e outra ativada termicamente em diferentes concentrações (1, 5, 15, 30, e 50%). As propriedades físico-químicas dos filmes foram investigadas por MEV, FTIR-ATR, DRX e TG/DTG. Testes mecânicos, de Permeabilidade ao Vapor d'água Genotoxicidade e Ensaios de Liberação in vitro foram avaliados. A adição de PAL desempenhou o reforço das propriedades mecânicas dos filmes com aumento dos valores para força de punção e elongação relacionados à rigidez das fibras do argilomineral. Os estudos de permeabilidade revelaram um sistema com comportamento hidrofílico com diferença significativa para as amostras nas concentrações a 1 e 5%. Nenhum sinal de toxicidade foi reportado para os filmes biocompósitos. O estudo de liberação in vitro revelou que a adição de PAL natural na concentração de 1% melhorou o perfil de liberação do fármaco modelo em relação ao filme formado exclusivamente por GG. O filme GGPAL 1% exibiu um valor máximo de liberação de 79,26% ao final do ensaio, o qual constitui uma importante resposta para potenciais aplicações deste material como carreador de fármaco. O conjunto de resultados desta pesquisa contribui agregando valor à PAL, um material regional ainda pouco investigado em associação com biomoléculas. Desta forma, abre-se novas possibilidades biotecnológicas destes sistemas nas áreas de dispositivos sensores ou ainda para revestimentos de biomateriais na área biomédica.