Desenvolvimento de ensaio clínico com células-tronco derivadas do tecido adiposo na reparação da glândula mamária de caprinos com mastite
Mastite caprina. Testes-diagnóstico. Células-tronco derivadas do tecido adiposo. Marcação com nanocristais. Terapia celular. Glândula mamária.
A mastite caracteriza-se por uma resposta inata da glândula mamária a infecções, comum em cabras leiteiras, desencadeada geralmente, por microrganismos. A antibioticoterapia é o principal tratamento, porém não demonstra sucesso em termos de produtividade, uma vez que o processo de fibroplasia modifica o tecido glandular. O uso de células-tronco poderia ser uma solução para a reparação tecidual, após quimioterapia em determinados casos de mastite. As células devem ser marcadas para o rastreamento quando infundidas no tecido alvo, sendo essencial para o controle da adesão e migração celular. O objetivo deste estudo foi avaliar o potencial terapêutico e regenerativo das Células-tronco Derivadas do Tecido Adiposo (ADSCs) na reparação de lesão tecidual em caprinos positivos para mastite e tratados com antimicrobianos, antes da infusão celular. Para o diagnóstico da mastite, utilizaram-se os testes de Tamis, California Mastitis Test (CMT), Contagem de Células Somáticas (CCS), cultivo, isolamento microbiano, e foram selecionadas oito cabras, em lactação com mastite crônica, tratadas com Gentamicina. Para caracterização da mastite, foi realizada a análise físico-química do leite, exames ultrassonográfico e histopatológico avaliando-se, as duas metades do úbere separadamente. As ADSCs foram obtidas da gordura subcutânea de caprino jovem, cultivadas in vitro, e marcadas com Quantum dots (QDots-655). Dessa forma, 1 mL de solução fisiológica com 3,5 x 106 células foram infundidas na glândula mamária, no antímero esquerdo, sendo o direito, utilizado como controle. Após 30 dias da infusão celular repetiram-se as análises ultrassonográfica e histopatológica na glândula mamária e, no primeiro período de lactação, a análise físico-química do leite. Antes dos procedimentos de terapia com as ADSCs, foi observado comprometimento da qualidade físico-química do leite; o tecido mamário apresentou processo inflamatório crônico e tecido fibroso na região intersticial da glândula; a marcação das ADSCs com Qdots possibilitou o rastreamento, por microscopia de fluorescência, após infusão no tecido mamário. No ensaio de terapia com ADSCs, as culturas primárias mostraram alta celularidade e viabilidade, com características cinéticas, de diferenciação e imunofenotipagem favoráveis à utilização em estudos pré-clínicos; os parâmetros físico-químicos do leite, como a gordura, ponto de congelamento, temperatura e extrato seco desengordurado apresentaram diferenças significativas entre os grupos (caprinos sem mastite, caprinos com mastite/sem tratamento e com tratamento); em dois dos animais tratados com ADSCs ocorreu a reconstituição da funcionalidade da glândula e o tecido conjuntivo após terapia celular foi reduzido em quantidade e infiltração inflamatória. As ADSCs demonstram potencial terapêutico e regenerativo de lesões constituídas por tecido fibroso na glândula mamária, entretanto, será necessário um período maior, além dos 30 dias após infusão celular, para realização da análise histopatológica e comprovação desse potencial, visto que, a reconstituição dos ácinos glandulares, neste prazo, não está finalizada. Assim, as ADSCs podem ser utilizadas na reparação de lesões fibróticas, com potencial para se tornar uma alternativa promissora na clínica.