Reação em cadeia de polimerase quantitativa para estimativa da quantidade de Leishmania infantum e infectividade da saliva de pacientes com calazar e infeção pelo HIV
Leishmaniose visceral. HIV. Transmissão. Real time PCR. Saliva. Diagnóstico. Biotecnologia
A leishmaniose visceral (LV) é uma das doenças tropicais mais negligenciadas, mais de 12 milhões de pessoas estão infectadas em todo mundo O surgimento da pandemia de HIV/AIDS no último quarto de século modificou substancialmente o espectro clínico e epidemiológico da LV. Métodos para o diagnóstico não invasivo podem acelerar o diagnóstico e reduzir a letalidade. O objetivo deste estudo foi investigar a importância da reação em cadeia de polimerase quantitativa para estimativa da quantidade de Leishmania infantum e infectividade da saliva de pacientes com calazar e infeção pelo HIV e a correlação da transmissão do parasita com sua presença na saliva. Para tanto, realizou-se estudo transversal que avaliou 64 pacientes distribuídos entre (a) pacientes do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portela, com LV e com e sem infecção por HIV e (b) pessoas assintomáticas que fizeram o teste anti-HIV e que tiveram o teste anti-L.infantum reagente; e 154 pessoas que residiam com pacientes com infecção por L. infantum. Foram comparadas as proporções de pessoas com infecção por L. infantum entre os grupos domésticos de pessoas com L. infantum/HIV e sem HIV, utilizando para esta análise a Real time PCR na quantificação do parasita, PCR qualitativa na detecção da Leishmania e reação de Montenegro para identificar a transmissão do parasita dos pacientes para seus coabitantes. Os resultados demonstraram associação estatística significativa entre ter pelo menos um coabitante infectado e as variáveis sexo, CD4, carga viral, idade, qPCR saliva e qPCR sangue. Observou-se que a chance de um paciente com carga viral maior que 50 cópias virais∕mm³ é 0,9734 vezes maior em relação aos pacientes com carga viral menor que 50 cópias virais∕mm³, assim como de ter uma maior carga parasitária na saliva. Verificou-se a prevalência do sexo masculino entre os coinfectados e de pacientes com idades entre 21-45. Encontrou-se um coeficiente de Spearman de 0,64, com valor de p < 0,001 na correlação entre a qPCR da saliva com a qPCR do sangue. Os pacientes coinfectados com LV∕HIV possuem mediana de 2793,6 parasitas∕ml na saliva e mediana de 2302,4 parasitas∕ml no sangue, enquanto os pacientes sem HIV e com LV sintomática apresentaram um valor mediano de 1821,2 parasitas∕ml na saliva, com média de 10234,4 parasitas∕ml e mediana e média de 320,4 parasitas∕ml e 2649,6 parasitas∕ml respectivamente no sangue, já os pacientes sem HIV e assintomáticos apresentaram valor mediano de 829,2 parasitas∕ml na saliva e 43,2 parasitas∕ml no sangue. Os pacientes com LV∕HIV apresentaram elevada carga parasitária em relação àqueles que possuíam a LV sem HIV, evidenciando a importância da influência do HIV na dinâmica da coinfecção. Os resultados mostraram maior quantidade do parasita na saliva do que no sangue, bem como a utilidade da saliva como método de diagnóstico não invasivo e possível fonte de transmissão do parasita.