Introdução. O bacuri (Platonia insignis Mart.) é um fruto de origem amazônica pertencente à família Clusiaceae. Faz parte de uma das mais importantes cadeias produtivas do Brasil, com uma produção anual de aproximadamente 2.250 toneladas. É bastante apreciado tanto para consumo in natura como na forma de derivados como bebidas, doces e sorvetes. A polpa é a parte amplamente utilizada do fruto e embora sementes e cascas possuam amplo potencial de aplicação, ainda são pouco aproveitadas e a maior parte do que é gerado durante a despolpa é descartada, se tornando um problema com relação ao desperdício na cadeia produtiva e ambiental. Objetivo. Objetivou-se investigar sobre o potencial tecnológico e econômico do bacuri (Platonia insignis Mart.) e a utilização de seus co-produtos (cascas e sementes) para o desenvolvimento de farinhas com aplicação na nutrição humana. Metodologia. A pesquisa foi dividida em 4 etapas e estruturada em 4 capítulos. Na primeira etapa (Capíulo 1) foi realizada uma revisão da literatura dos últimos cinco anos acerca da aplicação e perspectivas do aproveitamento de co-produtos da agroindústria de frutas para fins alimentícios. Na segunda etapa (Capítulo 2) foi realizada uma revisão integrativa com ênfase na prospecção tecnológica da espécie Platonia insignis Mart.. A terceira etapa (Capítulo 3) contemplou um mapeamento da cadeia produtiva do bacuri com a finalidade de compreender o potencial econômico do fruto e suas relações de produção e produtividade. A quarta etapa (Capítulo 4), trata sobre a obtenção de farinhas de cascas e sementes de bacuri, com a realização de um estudo prévio de secagem em que as condições foram estabelecidas através de um Delineamento Composto Central Rotacional (DCCR) 2/2 com 9 tratamentos e 11 ensaios, em que o Tempo (horas) (X1) e a Temperatura (ºC) (X2) foram utilizadas como variáveis e os parâmetros de umidade (Y1) e atividade de água (Y2) como respostas, a fim de determinar as condições em que é possível proporcionar maior tempo de prateleira ao produto aliado a maior viabilidade econômica. Em seguida, foram realizados estudos para a caracterização das propriedades tecnológicas com base no rendimento, granulometria, índice de absorção de água (IAA), índice de solubilidade em água (ISA), capacidade de retenção de óleo (CRO), capacidade gelificante (G), pH e acidez. As composição centesimal dos produtos obtidos em condições mais viáveis foram avaliadas com base nos teores de lipídios, proteínas, cinzas, carboidratos e Valor Energético Total (VET). Também foi realizado ensaio de fluorescência de raios X (FRX) e avaliação da estabilidade térmica e oxidativa. Resultados e Discussão. Co-produtos resultantes do processo de beneficiamento de frutos constituem importante fonte de compostos bioativos, nutrientes e fibras, e possuem grande potencial para inclusão na alimentação humana. O bacuri é um dos frutos amazônicos que mais se destaca em termos de produção, embora possua uma cadeia produtiva desestruturada e um circuito de comercialização baseado principalmente na extração da polpa, o que ressalta a importância de um melhor aproveitamento de cascas e sementes, tendo em vista todo o petencial tecnológico que tem sido demonstrados para essas frações nas mais diversas áreas de aplicação, principalmente cosmética e terapêutica, embora exista outras áreas a serem exploradas. O estudo realizado para o desenvolvimento das farinhas a partir dos co-produtos do bacuri estabeleceu que a melhor condição para a secagem acontece a 70oC por 2 horas (Tratamento 3). Os produtos obtidos sob essa condição apresentaram bons resultados para umidade e atividade de água, o que pode proporcionar uma maior tempo de prateleira, rendimento e viabilidade econômica. A farinha da semente de bacuri apresentou atividade de água de 0,50, umidade e rendimento de 1,72% e 76,55%, respectivamente. A farinha da casca de bacuri possui uma atividade de água de 0,53, umidade de 5,82% e rendimento de 21,08%. Tanto a farinha da semente de bacuri quanto a farinha da casca de bacuri apresentaram bons índices absorção e solubilidade em água e capacidade de retenção de óleo. Com relação à capacidade gelificante, a farinha da semente de bacuri não demonstrou capacidade de formação de gel nas concentrações estudadas e a farinha da casca do bacuri apresentou formação de gel fraco. A análise das características nutricionais mostrou que a farinha da semente de bacuri é composta de 50,59% de lipídios, 3,9% proteínas, 41,84% carboidratos, 1,89% umidade e VET de 638,56 Kcal·100 g-1. Enquanto isso, a farinha da casca do bacuri possui 8,20% de lipídios, 2,53% de proteínas, 2,07% de cinzas, 81,37% de carboidratos e VET de 409,43 Kcal.100g-1. Ambas as farinhas apresentaram um perfil de minerais ricos em potássio (K) e cálcio (Ca) e boa capacidade térmica. Conclusão. Nos últimos dez anos houve um aumento significativo no número de patentes relacionadas a espécie Platonia insignis Mart., com a perspectiva de que com o avanço dos estudos sobre suas propriedades, as possibilidades de aplicação de tecnologias nas mais diversas áreas se mostrem cada vez mais viáveis e promissoras. Com uma produção bastante expressiva do fruto, o fortalecimento dessa cadeia produtiva pode fomentar o desenvolvimeto social e econômico dos entes envolvidos, além de contribuir para ações capazes de promover sustentabilidade ambiental e segurança alimentar, o que remete a desafios como a conversão de resíduos em co-produtos de valor agregado. Com base na avaliação das características tecnológicas e nutricionais apresentadas pelas farinhas desenvolvidas com sementes e cascas oriundas do processo de despolpa do bacuri, é possível afirmar que as condições de secagem utilizadas podem proporcionar maior tempo de prateleira ao produto, além de oferecer a possibilidade de incorporação dessas farinhas na formulação de outros produtos com maior valor nutricional e funcional.