Introdução: A reparação óssea é um processo complexo e dinâmico, cuja cicatrização e remodelação dos tecidos dependem da manutenção de um equilíbrio entre a reabsorção óssea por osteoclastos e a formação óssea por osteoblastos. A aplicação de biomateriais a base de polihidroxibutirato - PHB (um polímero natural biodegradável e biocompatível) e norbixina (um carotenoide antioxidante), para fins de reparo ósseo, ainda é desconhecida. Objetivo: Revisar a atuação de biomateriais a base de PHB e norbixina como biomateriais em aplicações biológicas, avaliar em estudo prospectivo e tecnológico o uso deste biomaterial para fins de reparo ósseo, bem como sintetizar e verificar a eficácia do mesmo como scaffold em defeitos ósseos induzidos na tíbia de ratos. Materiais e Métodos: Foi realizada uma minirevisão bibliográfica sobre o desempenho de biomateriais a base de PHB e norbixina como biomateriais em aplicações biológicas em geral. Sem seguida, foram realizadas buscas de artigos científicos (Web of Science, Scopus e Scielo) e levantamento do número de patentes (INPI, Espacenet e USPTO) para o mapeamento científico e tecnológico. Por fim, o estudo experimental foi aprovado pelo CEUA (nº protocolo 00057/18) e foram utilizados 24 ratos machos Rattus norvegicus divididos em dois grupos (n= 6, cada): A – controle, B – membrana. Os animais foram anestesiados com xilazina 2% e cetamina 10% com dose de 0,1 mL para cada 100 g de peso corpóreo e o defeito foi induzido em uma região proximal da tíbia direita com broca do tipo trefina de 3 mm acoplada a um micromotor cirúrgico de alta rotação, seguido da implantação do biomaterial no local da lesão apenas no grupo membrana. Os animais foram eutanasiados aos 15 e 30 dias. As tíbias foram removidas e fixadas em nitrogênio líquido para conservação. As dosagens bioquímicas dos marcadores do metabolismo ósseo (fosfatase alcalina, fosfatase ácida, cálcio e fósforo), a deposição de matriz orgânica e inorgânica (espectroscopia raman), a qualidade do tecido ósseo neoformado (análise histopatológica) e a morfologia do defeito ósseo (microscopia eletrônica de varredura) foram mensurados ao longo do processo de reparo. Resultados: Há escassos estudos envolvendo PHB associado à norbixina em aplicações biológicas. O uso deste biomaterial em reparo ósseo ainda é desconhecido e, até o presente momento, inédito. Quanto à avaliação in vivo, não houve diferenças significativas entre as dosagens bioquímicas ao longo do experimento. Aos 15 dias da indução da lesão, os espectros raman revelaram que o tratamento com biomaterial influenciou significativamente a deposição de cristais de hidroxiapatita (~960 cm-1) (p<0,0001), a formação de matriz de colágeno I (~2940 cm-1) (p<0,05), teor de mineralização (v1PO4 3-/amida III p<0,0001, v1PO4 3-/CH2 p<0,0001 e CO3 2-/v1PO4 3- p<0,001) e cristalinidade (p<0,0001) em relação ao grupo controle; morfologicamente, observou-se uma regressão do sítio da lesão e organização do osso neoformado tratado com biomaterial. Aos 30 dias do experimento, não houve diferenças significativas entre os grupos analisados. Conclusão: O biomaterial atuou como scaffold na regeneração do defeito ósseo guiado por meio da aceleração da síntese de matriz de colágeno, teor de mineralização, densidade e maturidade quando comparado ao grupo controle, exibindo biocompatibilidade, osteocondutividade e osteogênese a partir dos 15 dias de período experimental, representando uma opção promissora para o tratamento de fraturas.