Caracterização e aplicações cardiovasculares de um novo peptídeo rico em prolina
obtido da secreção cutânea de Brachycephalus ephippium
Brachycephalus ephippium, Inibidor de ECA, Óxido nítrico, Peptídeo potencializador de bradicinina, Peptídeo rico em prolina, Vasodilatador.
Os peptídeos potencializadores de bradicinina (BPPs) foram relatados pela primeira vez ao demonstrar-se que o veneno de Bothrops jararaca promove potencialização da contração do músculo liso intestinal induzida por bradicinina e foram os primeiros inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) descritos. Os BPPs fazem parte de uma família denominada “peptídeos ricos em prolina” (PRO) devido à presença de resíduos do aminoácido prolina na região C-terminal. Essa descoberta deu início a diversos estudos que visam o desenvolvimento de agentes úteis no tratamento da hipertensão arterial sistêmica, levando ao desenvolvimento do captopril. Estes estudos mostram que os PROs agem não somente sobre a ECA, mas também sobre diferentes alvos farmacológicos, ressaltando a importância na elucidação de novos mecanismos de ação envolvidos. O presente estudo descreve o isolamento e a caracterização químico-farmacológica de um novo PRO isolado a partir da secreção cutânea do anfíbio Brachycephalus ephippium denominado BPP-Brachy e sua forma amidada, BPP-BrachyNH2, ambas encontradas na forma natural. Este peptídeo inibe eficientemente a atividade da ECA in vitro em soro de ratos causando bloqueio do acesso do substrato ao sítio ativo do domínio C, assim como induz uma potente vasodilatação dependente de endotélio em anéis de artéria aorta torácica de ratos. A presença de L-NAME, um inibidor da óxido nítrico (NO) sintetase, assim como a remoção mecânica do endotélio vascular abolem a vasodilatação induzida por BPP-BrachyNH2. Em anéis de aorta previamente carregados com a sonda DAF-FM DA, BPP-BrachyNH2 promoveu aumento de fluorescência observado por microscopia confocal, indicando aumento na liberação de NO. A viabilidade celular de linhagens de células endoteliais de veia umbilical humana, de músculo liso vascular de aorta de ratos e macrófagos murinos na presença de BPP-BrachyNH2 foi avaliada pelo método do MTT, que demonstrou ausência de citotoxicidade nas concentrações testadas. A avaliação toxicológica aguda in vivo do BPP-BrachyNH2 não apresentou morte ou sinal de toxicidade. Em conclusão, o peptídeo BPP-BrachyNH2 apresenta uma sequência primária inédita nos bancos de dados internacionais e é o primeiro BPP isolado a partir da secreção cutânea em toda a família Brachycephalidae. Estes achados abrem a possibilidade para se bioprospectar os anfíbios como fontes de novas biomoléculas e com ação cardiovascular, assim como para suas potenciais aplicações no tratamento de disfunções endoteliais.