A leishmaniose visceral é uma zoonose que causa uma série de manifestações clínicas em seres humanos que podem comprometer órgãos internos, em especial, fígado, baço, gânglios linfáticos e medula óssea, podendo levar à morte quando não tratada. Apesar da exposição masculina ser igual ou menor quando comparada à feminina, a predisposição para infecção dos homens é evidente, elevando-se no período pós puberdade. As diferenças sexuais na função imunológica estão diretamente relacionadas aos níveis hormonais de esteroides circulantes, determinando o tipo de exposição, a patogenicidade, a infectividade de microorganismos e a manifestação clínica da doença. Nesse sentido, destaca-se a ação da testosterona e dihidrotestosterona que podem levar à uma tolerância imunológica ou induzir mecanismos de defesa pró-inflamatórios contra patógenos frente a uma infecção parasitária. Assim, este estudo teve como objetivo avaliar a correlação dos níveis de testosterona e dihidrotestosterona sobre a gravidade da leishmaniose visceral em homens. No capítulo 1, foi realizado uma revisão bibliográfica sobre o papel do sexo e dos hormônios sexuais na resposta imune das doenças infecciosas, com ênfase nas leishmanioses. No capítulo 2, foi realizado um estudo transversal com 114 homens com diagnóstico de leishmaniose visceral, destes 25 com material biológico coletado no momento do diagnóstico e 30 dias após o tratamento medicamentoso, e um grupo controle com 21 homens saudáveis. A testosterona e dihidrotestosterona foram quantificadas em amostras de soro que estavam armazenadas no Laboratório de Leishmanioses da Universidade Federal do Piauí. Os dados do estudo foram extraídos através dos prontuários utilizando um formulário estruturado. As variáveis analisadas foram: epidemiológicas, manifestações clínicas, probabilidade de morte e concentração de testosterona e dihidrotestosterona. Utilizou-se o programa Kala-Cal® para calcular a probabilidade de morte na doença. A idade média dos doentes foi de 36,5 anos; os principais sintomas relatados foram: febre (88,6%), esplenomegalia (85,1%), fadiga (73,7%), hepatomegalia (63,2%) e palidez cutânea (61,4%); 7 (6,2%) evoluíram com óbito; apresentaram níveis de testosterona menores (µ = 502,3 ng/dL, p <0,001) e 5 dihidrotestosterona mais elevado (µ = 710,0 pg/mL, p 0,021); os níveis séricos de dihidrotestosterona foram mais baixos nos pacientes que apresentaram vômito (p=0,020), diarreia (p=0,023), dispnéia (p=0,008) e sangramento gengival (p=0,048); e menores níveis de dihidrotestosterona apresentaram relação significativa com o Kala-Cal® acima de 10% (p<0,001). A testosterona não apresentou relação com os sintomas e gravidade da leishmaniose visceral, já a dihidrotestosterona em baixos níveis fisiológicos foi associada com maior probabilidade de morte na doença.